terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sob Arruda, fisiologia teve esmero do registro em ata

Fábio Pozzebom/ABr

As investigações da PF e da Procuradoria conferiram à gestão José Roberto Arruda a aparência de um sistema que gira em torno de verbas e privilégios.

Verbas para o próprio governador, auxiliares dele, e deputados que se dispuseram a vender as consciências.

Privilégios para as empresas que toparam retirar de suas caixas registradoras o dinheiro que abasteceu a folia subterrânea de Brasília.

À medida que a apuração avança, vai-se iluminando outro flagelo: o fisiologismo. O rateio de cargos completa o tripé de perversões em que se escorou Arruda.

Em discursos e comerciais televisivos, Arruda se vendia como um gestor moderno. Na prática cotidiana da gestão, entregava-se ao arcaísmo.

Documentos apreendidos pela PF na casa de um amigo e ex-assessor de Arruda mostram que o o governador fatiou entre amigos e aliados rateio 4.463 cargos.

São cargos de confiança, nomeados politicamente, sem concurso. A prática é comum. Está presente no governo federal e eem outras gestões estaduais e municipais.

Sob Arruda, porém, o fisiologismo ganhou um requinte: definidos em reunião da qual participou o próprio governador, os critérios da partilha foram assentados em ata.

Deu-se em 2007, no alvorecer da “nova” administração. Tudo registrado em dois documentos recolhidos pela PF numa batida policial.

Encontravam-se na casa de Domingos Lamoglia, ex-chefe de gabinete de Arruda, apeado do cargo depois da implosão do esquema dos panetone$.

Um dos papéis anota no título: “Sugestão do grupo especial, encarregado de controlar as nomeações no GDF”.

Mais adiante, o documento explica, em linguagem clara como água de bica, a razão do rateio: “Diminuir a pressão sobre o senhor governador”.

De acordo com os papéis manuseados pela PF, cada secretário do governo Arruda pôde preencher 20 cargos. Juntos, nomearam 320 pessoas.

Aos 21 presidentes de empresas vinculadas ao GDF, dez nomeações por cabeça –total de 210 cargos.

Os papéis atribuem a um time seleto –“Os 23 amigos do grupo JRA”— a primazia na indicação de apaniguados para 690 cargos de “confiança”.

“JRA” são as iniciais de José Roberto Arruda. Entre os “amigos” da sigla, o próprio Lamoglia; Omézio Pires, assessor de imprensa do governador...

...E o deputado Alberto Fraga (DEM), hoje secretário de Transportes. Para cada um deles, foram reservados 30 cargos.

Fica-se com a impressão de que, na gestão Arruda, o fisiologismo não é parte do sistema. É o próprio sistema.

Tão integrado ao cenário da Brasília do governador preso quanto as curvas da arquitetura de Oscar Niemeyer.

Escrito por Josias de Souza às 05h06

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