sexta-feira, 6 de maio de 2011

SISTEMISMO X DlALÉTICA: UMA QUESTÃO DE DIFERENCIAÇÃO DE PROPOSTAS

RESUMO

ARECO, A. M. B, Sistemismo x dia/ética: uma questão de diferenciação de propostas.
Trans-in-formação. 1(2), maiolago. 1989.

Caracter'za os dois modelos epistemológicos: sistemismo e dialético para então estabelecer
um confronto entre os dois, a partir de suas distinções e similitudes.
Enfat:za o modelo dialético, demonstrando-o como capaz de abarcar as contradições
e aspirações do homem.
Unitermos: Mode/os episte.71O/ógicos - Siste'11ismo - Dia/ética.

A proposta presente é a diferenciação entre os modelos sistêmico
e dialético de pensar o conhecimento humano.
O desenvolvimento nas áreas da ciência e tecnologia, que desembocou
em nosso século de maneira eruptiva. quase impede o homem da compreensão
desta situação progressista na qual ele próprio era sujeito e objeto.
talo pânico em que o mesmo fora tomado pela imprevisibilidade e descontrole
do fato.
Buscar a compreensão do mundo sempre foi, em todos os tempos,
tarefa filosófica a qual se impõe ao homem pela sua própria singularidade de
se fazer conhecer através da explicitação do desconhecido.
A racionalidade acompanha o homem desde os primórdios tempos
e as principais questões sobre a vida eram explicadas a partir das forças da
natureza.
Quando o conhecimento religioso abarca a explicação dos fenõmenos
da natureza, a verdade assume o caráter de divindade, de dogmas. --------
• :rofessora do Curso de Biblioteconomia das Faculdades Integradas Teresa D'Avila ATEA,
Lorena - SP. Mestranda em Biblioteconomia - PUCCAMP.
196 Trans-in-fonnação 1(2):195-203, maio/ago. 1989 Trans-in-fonnação 1(2):195-203. maio/ago. 1989 197
Estes dois pontos: conhecimento filosófico (racional) e religiosidéde
(misticis'ino) ajudados pelo senso comum, explicaram a relação homem/
mundo durante muito tempo.
Somente no século XVI, com Descartes, aparece a preocupação
da compreensão dos fenômenos a partir de suas relações, a partir da observação
científica aliada ao raciocínio.
Portanto, podemos dizer que os modelos epistemológicos, da forma
sistematizada, metodizada como os conhecemos atualmente, são características
do período moderno e se fazem presentes em todas as áreas do
conhecimento subsidiando o homem em sua relaçao com o mundo.
A maneira pela qual um modelo se apresenta, mais ou menos acentuado,
em determinada área é questão polêmica. Particularmente, explicaria
o fato pelas próprias diferenças contextuais em cada área, o que implicaria
num resgatar de uma explicitação particularizada de cada contexto.
Percebe-se no atual momento, mais pelo senso comum do que
através de uma abordagem analítica, a impregnação do modelo sistêmico em
várias áreas, senão na maioria, do conhecimento, o que vale dizer que' o
modo vivente capitalista requer para sua "retroalimentação" e controle a inspiração
num modelo que caminhe com ele, lado a lado, mantendo-o com
maior garantia de "eficiência" e "eficácia".
Esta afirmativa poderá ser explicitada a partir das características,
que serão, a seguir, apresentadas.
Nelas serão observadas questões ligadas ao próprio dinamismo do
sistema e a maior delas é a circularidade, ou seja, a repetição e confirmação
das ações.
Este tipo de raciocínio, transposto para análise sociológica, Iigitima
a diretividade e coloca como função administrativa a ordem disciplinar, ou
seja, a tarefa de harmonização para eficiência máxima do sistema global.
Assim, em termos metodológicos, o sistemismo é perfeitamente
adequado à legitimação de poderes, justamente pela sua capacidade de manutençao
de ações.
Começarei por delinear os dois modelos em questão a partir de
suas peculiaridades para depois. então, estabelecer as referidas diferenciações.
1. DIALl:TICA
o ponto central para o entendimento do método está no compreender
o homem enquanto fazedor de sua história e a questão da hominização,
a partir do trabalho, pois "é no trabalho que o homem se identifica como homem"
(MOSTAFA, 7:195).
Para explicitação do instrumento dialético é necessário entender,
de acordo com DEMO (3), conceitos de:
a) historicidade - é justamente a compreensão do ser como agente
social que só se individualiza ao longo do tempo. É bem como diz: FOULQUIÉ
4:76-77 "o próprio sábio faz parte dos materiais de que dispõe e influi
inconscientemente nos dados da observação" pois, a "história é inseparável
do historiador".
É essa impossibilidade de separar o observador da coisa observada
que caracteriza o real e este real é a própria história uma vez que esta é
entendida por Marx dentro do sentido da práxis que significa "um modo de
agir no qual o agente, sua ação, e o produto de sua ação são termos intrinsecamente
ligados e dependentes uns dos outros, não sendo possível separá-
los" (MOSTAFA,4:94).
b) processo - a noção de processo está implícita na questão da
história. É a trajetória da ação pois a história "é algum processo que acontece
aqui e agora, produzida por nós através de contradições que criamos"
(MOSTAFA, 4:48), é ainda o "movimento das coisas para os conceitos, das
noções para as coisas" (FOULOUIÉ,4:94).
KONDER (5), em seu livro O que é dia/ética, diz que para Marx o
conhecimento é totalizante e a atividade humana é o processo de totalização
que nunca alcança uma etapa definitiva.
c) mutação social - o que acarreta a mudança social é o trabalho
que se constitui na tarefa de transformar a natureza. É o movimento de contradição
e mediação do homem, mediante suas relações de trabalho que traz
a mutação social.
Temos aí formado o esquema básico para a compreensão das características
da dialética as quais FOULOUIÉ (4) chamou de diálogos em
alusão às origens do termo.
O primeiro diálogo estabelece-se entre o a priori e o a posteriori que
é resolvido a partir da noção de dualidade, não se admitindo a priorização do
primeiro em detrimento do segundo e vice-verso.
O segundo diálogo é entre o concreto e o abstrato que se resolve a
partir da compreensão da frase de GONSETH apud FOULOUIÉ (4: 95) de
que "o pensamento cria constantemente o abstrato, mas uma vez este libertado,
o pensamento não se detém nele para sempre. Recua e procura uma
nova realização concreta geralmente mais palpável que a primeira". Isso redunda
a pensar também na inseparabilidade das duas questões e não num
pensamento maniqueístia donde um vence o outro. Aqui os contrastes caminham
pari passu.
O terceiro diálogo é o que se formula a partir das questões sobre o
sujeito e objeto e neste aspecto FOULOUIÉ (4: 95), nos explica: "nem subjetivismo
puro nem objetividade absoluta, mas informação do sujeito pelo objeto
e do objeto pelo sujeito".
O que percebo é uma noção profunda de complementaridade a partir
de uma ótica histórica.
198 Trans-in-fonnação 1(2):195-203, maio/ago. 1989 Trans-in-fonnação 1(2): 195-203, maio/ago. 1989 199
A dialética tem suas remotas origens na Grécia, mas não me deterei
em traçar seu percurso histórico mas sim apenas salientar a figura de
Hegel como um marco importante na sua solidificação. Ele retoma o ser e
não o conhecimento como questão central na filosofia. Assim, passa a estudá-
lo num plano objetivo, já que o homem transforma a realidade mas
quem impõe o ritmo e as condições da transformação é a realidade objetiva.
Portanto, é no trabalho, ou seja, nas atividades políticas e econõmicas, desenvolvidas
pelo homem que Hegel vai buscar a questão do ser/Universo, a
questão da relação sujeit%bjeto.
Entretanto, Karl Marx (1818-1883) dá um significado mais denso à
dialética quando considera também em suas abordagens o trabalho físico,
ignorado por Hegel. É justamente na inseparabilidade do trabalho intelectual
e físico que Marx coloca a tônica de sua abordagem. Apresentando o lado
negativo do trabalho físico, imputado pela divisão social do mesmo, nos dá a
compreensão das deformações sociais a partir dos estamentos criados pela
própria sociedade. Assim, o desprestígio do trabalho físico por parte da sociedade
é legitimado pelos modelos organizacionais apresentados na sociedade
capitalista como forma de esconder suas próprias deformações e em
lugar do ser humano reconhecer-se em suas criações, se sente ameaçado
por elas. A alienação, entendida por Marx como deformação gerada na estrutura
capitalista da divisão social do trabalho, acaba sendo exigida em organizações
burocráticas, gerando conflitos e escondendo contradições.
Há divergências entre o conceito de dialética de Hegel e o de Marx.
Enquanto que no primeiro há uma visão idealista da realidade, no momento
em que o conhecimento acaba sendo entendido como inicio e fim do movimento,
em Marx a visão da realidade não é reduzida ao conhecimento, dá-se
uma abordagem materalista ao real. A atividade humana entendida como
processo totalizante não alcança etapa definitiva.
FOULQUIÉ (4: 117), aludindo aos marxistas de um modo geral, salienta
que a "dialética não é um método como a lógica: consiste num caráter
particular de atividade mental" que se propõe não a superar o velho, mas a
integrá-lo ao novo dando-lhe significados mais profundos.
2. SISTEM ISMO
o sistemismo, como falei no início, está se mantendo como modelo
epistemológico em diversas áreas do conhecimento, haja visto que tem impregnado
o nosso dia a dia demarcando-o de forma imprecisa na medida em
que se propõe a ser um modelo abrangente.
CAPRA (2), em seu livro O ponto de mutação, coloca a concepção
sistêmica da vida como a única capaz de abarcar e responder as inquietações
da vida moderna, sem entretanto, se dar conta do homem como um
"elemento" distinto, capaz de interpenetrar nos outros elementos, interagindo
com esses de forma diferenciada, num processo ininterrupto. Para ele "os
sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas
à de unidades menores." (p. 260)
Entendo que, se assim for, essas totalidades integradas também
não são ampliadas, já que, naquele autor, as relações sociais não são vistas
a partir do próprio homem.
A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e integração
e do ponto de vista da natureza, já que "as células sao sistemas vivos,
assim como vários tecidos e órgãos do corpo, sendo o cérebro humano
o exemplo mais complexo". A noção de sistema social, entendida a partir
das variáveis históricas, fica ausente pois o autor explica que "os sistemas
não estão limitados a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos
de totalidade são exibidos por sistemas sociais e ecossistemas" (p.
260).
As questões reducionismo/holismo constituem-se, a partir da
noção organísmica do mundo, o cerne do sistema da vida. A abordagem
sistêmica se propõe a um pensamento sintético e explica o comportamento
dentro de uma visão teleológica, que explica algo a partir do que este algo
estabelece como finalidade.
O que não fica claro é como entender, a partir daí a suposta natureza
dinâmica do sistema, se seus elementos estruturais são estáveis e se
auto regulam por padrões orgânicos e cíclicos de fluxo de informação?
BERTALANFFY (1) é considerado o criador da teoria geral de sistemas,
muito embora CAPRA (2), especificamente no capítulo IV, "a nova
visão da realidade", de seu livro sequer mencione o autor.
Mas, indisposições livrescas à parte, as propostas sistêmicas partem
de uma concepção organísmica da biologia, propondo-se atentar para a
resolução da concepção mecanicista das ciências.
A idéia básica da T.G.S., segundo Bertalanffy (1), é a de se conhecer
o fenômeno de maneira totalizante de forma a se fazer "necessário estudar
não somente partes e processos isoladamente, mas também resolver os
decisivos problemas encontrados na organização e na ordem que os unifica,
resultante da interação dinâmica das partes, tornando o comportamento das
partes diferentes quando estudado isoladamente" (p. 53).
CAPRA (2: 26), não discorda desse pensamento mas enfatiza a
natureza dinâmica das partes, salientando que "suas formas não são estruturas
rígidas, mas manifestações flexíveis, embora estáveis, de processos
SUbjacentes."
Para caracterizar o sistemismo é importante considerarmos:
a ) os sistemas existem dentro de sistemas pois "quanto mais estudamos
o mundo, vivo, mais nos apercebemos de que a
tendência para a associação, para o estabelecimento de víncu"--~
200 Trans-in-formaçáo 1(2): 195-203, maio/ago. 1989 Trans-in-formação 1(2): 195-203, maio/ago. 1989 201
los para viver uns dentro de outros e cooperar, é característica
essencial dos seres vivos" (CAPRA, 2:272);
b ) globalismo - a natureza orgânica é autônoma mas ao mesmo
tempo um componente de um organismo maior. A ordem é resultado
da autoorganização dos subsistemas em sistemas globais;
c ) entropia - desgaste do próprio sistema que é reposto pela autoregulamentação
do mesmo;
d ) retroalimentação - os sistemas se autoalimentam na medida em
que interagem com outros. Isso para CAPRA (2: 262), foi considerado
como uma distinção entre os mecanismos orgânicos e
de máquina.
Para ele a distinção se torna evidente quando percebemos que "as
máquinas funcionam de acordo com cadeias lineares de causa e efeito, e
quando sofrem uma avaria pode ser identificada uma causa única. Em contrapartida
o funcionamento dos organismos é guiado por modelos cíclicos de
fluxo de informação conhecidos por laços de realimentação."
A realimentação, entendida como no acima exposto, se apresenta
como modelo para enteder este processo também nas organizações sociais.
Em termos da aplicação às ciencias sociais, o sistemismo busca
suporte nas proposituras do funcionalismo de Parsons.
O Parsonismo explica ação social e sistema social. A ação é vista
como unidade através de variáveis padrões e o sistema através de imperativos
funcionais.
Aqui voltamos a insistir na questão do entender o social. Se para o
sistêmico ele é entendido a partir de seus arranjos funcionais, como fica a
inversão, encontrada no historicista que o entende a partir de sua gênese, de
sua evolução?
Esta visão teleológica e este pensamento pretensamente sintético
dos sistêmicos em nada explicitam como o sistema abarca as superações
históricas, ou seja, a transição de um sistema a outro.
Convém ressaltar que o processo de realimentação é sempre proposto
em termos da busca do equilrbrio. CAPRA (2: 264) prefere o uso da
palavra estabilidade ao invés de equilrbrio. Para ele "a estabilidade de sistemas
auto-organizadores é profundamente dinâmica e não deve ser confundida
com equilíbrio. Consiste em manter a mesma estrutura global apesar de
mudanças e substituições contínuas de seus componentes".
E é por isso que fica difícil imaginar uma estrutura social equilibrada
e estável, ao mesmo tempo dinâmica, processual.
Com estas consideraçêos já se apresenta viável o embate final
proposto, ou seja, o de se estabelecerem as diferenciações entre os modelos
estudados.
As minhas colocações serão segmentadas para maior elucidação
do meu pensamento:
1. O homem - a primeira questão a abordar, a meu ver, é a forma
pela qual as duas correntes vêem o ser. Enquanto no modelo dialético o homem
é dotado de uma valoração, na medida em que a própria natureza é
percebida a partir dele, no modelo sistêmico ele integra a natureza como um
elemento funcional em busca de objetivos e finalidades, que atentem para os
imperativos da sociedade global.
Assim não é ele quem faz a história, haja visto que, no sistemismo,
a história é encarada como alteração do sistema. No sistemismo parece imperar
um "ponto de vista adaptativo... na qualidade de técnica de domesticação
do conflito e de depuração do comportamento desviado" (DEMQ 3:
244). Com isso se entende a mutação social não como uma superação
histórica mas como entrave dentro do sistema e passível de solução.
2. O ponto de vista - chamo de ponto de vista os ângulos da
questão, a forma de percepção a que os modelos se reportam em suas explicações.
O sistemismo se reporta à natureza. É essa quem vai dar-lhe a
chave da interpretação do mundo. É a partir dos organismos vivos que se
tem a compreensão dos fenômenos todos. Na dialética a interpretação do
mundo, inclusive da própria natureza, é dada a partir da sociedade, ou seja,
do privilégio que se dá aos fenômenos sociais, como é o caso das relações
do homem no trabalho. O trabalho é entendido como forma de integraçao do
homem na natureza e visto como o "vir a ser" contínuo das formações sociais.
Este caráter histórico se contrapõe ao sistemismo pela sua peculiaridade
em entender o mundo como provisório, instável e precário ao invés de
naturalmente harmonioso.
3. O todo - Ambos os modelos se propõem à concepção do todo a
partir das partes, mas o fazem de maneira diferente. O sistemismo estuda a
parte dentro do todo de acordo com a natureza dinâmica e harmoniosa entre
elas.
A dialética percebe o todo entendendo as partes pelos seus sentidos
históricos e na medida de suas ligações humanas.
Ela abstraí a parte do todo para reintegrá-Ia com um sentido novo.
Este sentido novo seria o passar pelo crivo da hominização. É por isso que
"conhecer os fatos passa a ser, na concepção dialética, conhecer o lugar
qUe eles ocupam na totalidade do próprío real". (MOSTAFA, 6: 49).
4. O conflito - O sistemismo busca a manutenção do fenômeno por
rneio de sua retroalimentação e acredita na estabilidade. colocando em segundo
plano a mutação. Na dialética o conflito assume posição contrária à
estabilidade sistémica, pois a própria idéia de mutação social, na dialética,
decorre da noção de conflito, bem como a noção de transcendência que é a
Passibilidade de superação.
202 Trans-in-fonnação 1(2):195-203, maio/ago. 1989 Trans-in-fonnação 1(2):195-203, maio/ago. 1989 203
5. O processo - o processo sistêmico é natural, auto-regulador,
mantenedor da ordem. O processo dialético é um continuum histórico e não
vicioso (idéia de autoalimentação). É o movimento de ir e vir e nunca chegar
da realidade social. Esse desenvolvimento da realidade processual faz com
que a qualidade de vir-a-ser assuma uma posição de transitoriedade, mas de
certa forma nos possibilita o recriar a vida a cada momento.
6. A realidade e a noção de causa - no sistemismo o real é manifestado
pela sincronicidade dos fenômenos, ou seja, pelo encadeamento dos
seus múltiplos níveis. É a noção de ordem (fileiras) subjacentes à auto-organização
da realidade. Na dialética a noção de ordem inexiste, bem como a
estratificação dos fenômenos. Nela, o real é visto pelo movimento contraditório
e é a própria história.
A noção de causa não existe como forma de explicar o real, no
modelo sistêmico. Para este basta a relação dos fenômenos entre si para a
compreensão e decifração do todo. O presente fica desligado de sua constituição.
Para a Dialética, descobrir a causa é "penetrar por baixo do superficial
e encontrar as bases de onde os fenômenos partem, bases essas que a
ideologia tem por função esconder" (MOSTAFA, idem).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na verdade o modelo enfatizado por CAPRA (:2) como sendo o
ideal para a nova visão da realidade, pouco tem de novo, portanto, em nada
altera e sim mantém a condição da vida humana, pela sua própria característica
reguladora de persistir no tempo. A circularidade sistêmica não dá margem
às contradições e fica difícil entender o sentido de evolução a partir de
um mundo convivendo harmoniosamente com os atritos e imutável em suas
bases.
Não creio no questionamento do autor de que "a visão sistêmica
dos organismos é diHci I de ser apreendida aparti r da perspectiva da ciência
clássica, porque requer modificações significativas de muitos conceitos e
idéias clássicas". Não fica esclarecido pelo autor, quais seriam essas modificações
de conceito.
Destarte, o modelo continua reproduzindo o mecanicismo da ciência
clássica e se valendo do pensamento analítico para pensar o todo. Muito
embora com ares desenvolvimentistas quando se reporta à cibernética e
Teoria da Comunicação para se fazer apresentar interacionista.
É também questionável a idéia de que "as instituições sociais evoluem
no sentido de uma complexidade e diferenciação crescente, à semelhança
das estruturas orgânicas, e os modelos mentais apresentam a criatividade
e o ímpeto de auto-transcendência característicos de toda vida".
(CAPRA, 2: 292), pois na vida social, a transcendência não é apenas entendida
como forma de rearranjo do sistema mas sim o revolucionar do sistema
e o instaurar das fases novas. A possibilidade é de superação do sistema e
não no sistema. Haja visto que os homens são capazes de "antever o trabalho
a realizar" (MOSTAFA, 7:194), o que não ocorre com outros seres.
O modelo dialético me parece mais adequado para pensar ciência
já que a mesma também é produto da interação entre os homens, é transformação
da natureza e "todo saber - e não nos apercebemos suficientemente
disso - é um saber de nós próprios. Saber sobre nós próprios não há
conhecimento seja ele o mais longínquo ou o mais abstrato, que não nos revele
a nós próprios" (GUSDORF apud FOULQUIÉ, 4: 77).
O que se percebe é que o real não é puramente racional e o racionai
exige ser historicizado para dar conta do social.
Isso com certeza aliviará a complexidade das angústias humanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis, Vozes, 1973.351 p.
2. CAPRA, Fritjo~. A nova visão da realidade. ln: °ponto de mutação São Paulo, Cultrix,
1988. Cap. IV. p. 259-298.
3. DEMO, Pedro. Metodologia cientifica em ciências sociais. São Paulo, Atlas, 1980
4. FOULQUIÉ, Paul. Período científico. ln: A dialética. 3. ed. s. L p., Publicações Europa-
América, 1978, Capitulo II, p. 75-119. Coleção Saber.
5. KONDER, Leandro. °que é dialética. São Paulo, Brasiliense, 1986. 102 p.
6. MOSTAFA, Solange Punte!. Biblioteconomia e história: uma abordagem dialéticà Rev.
Bras. de Biblioteconomia e Documentação. (112): 47-51, jan-jun. 1981.
7. ---o Ainda sobre metodologia. R. Esc. Biblioteconomia da UFMG. Belo Horizonte,
15(2): 171-201, seI. 1986.

ABSTRACT
ARECO, A. M. B. Systemism and dialectics: a question of porposition 's differenciation.
Trans-in-formaçl1o. 1(2), maio/ago. 1989.
This paper characterizes the teo knowledge models: ststemism and dialectics ~or
lhen to establish a comparison between then fonn its di'ferences and simularities.
lt also emphasizes the d;aletic model showing its capability to encompass the human
COntradictions and aspirations.
Recebido: (1~ versão): 21 de setembro de 1988
(2~ versào): 20 de dezembro de 1988
(3~ versão): 6 de julho de 1989