domingo, 29 de novembro de 2009

OAB-DF cogita pedir impeachment do ‘demo’ Arruda

Fábio Pozzebom/ABr

De candidato à reeleição, José Roberto Arruda, único governador do DEM, tornou-se candidato a protagonista de um processo de impeachment.



A seccional do DF da OAB cogita patrocinar o pedido. “Estamos montando o processo”, diz a doutora Estefânia Viveiros, presidente da entidade.



“Na segunda-feira, vamos designar relator para analisar as provas dos autos”. Se prosperar, a petição será protocolada na Câmara Distrital.



Está para o DF assim como as Assembléias Legislativas estão para os Estados. Há, porém, um problema. Um não. Vários.



Arruda foi pilhado numa reedição do caso do mensalão. Descobriu-se que paga mesada a deputados distritais.



Impedido o governador, deveria assumir o vice Paulo Octácio (DEM). Porém...



Porém, Paulo Octávio, dono de uma construtora, frequenta as páginas do inquérito como um dos provedores do mensalão brasiliense.



Impedidos Arruda e Octácvio, deveria assumir o presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente (DEM). Porém...



Porém, Prudente é acusado de ter cometido a imprudência de beliscar mesadas do Palácio do Buriti, sede do governo do DF.



Inviabilizados Arruda, Octávio e Prudente, restaria entregar o governo do DF ao presidente do Tribunal de Justiça local.



Governista no Congresso Nacional, o PT é oposição no legislativo do DF. O peismo acena com a adesão ao pedido de impeachment de Arruda.



Gato escaldado, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, lavou a fúria com água fria no twitter:



“Não defendo o impeachment do Arruda. Não devemos agir como o DEM. Defendo que as investigações sejam feitas, com serenidade, sem baixaria”.



Neste sábado (28), a Comissão de Ética da Câmara Distrital realiza uma reunião de emergência. Tenta definir o tratamento a ser dispensado aos seus mensaleiros.



Os devoradores de mesadas são contados, por ora, em uma dezena. Nada assegura que o número não vá crescer.



É de perguntar: Terá restado alguma réstia de ética numa Casa assim, tão carunchada? Dificilmente.



Em litígio com os fatos, o governador Arruda não se deu por achado. A voz dele soa em gravações captadas por meio de escuta ambiental.



Ainda assim, o governador José ‘Poliana’ Arruda nega participação nos malfeitos.



- Em tempo: O inquérito do mensalão de Arruda está acomodado em três volumes e três apensos.



Os volumes estão disponíveis aqui, aqui e aqui. Os apensos podem ser lidos aqui, aqui e aqui.



O material vale o desperdício de um naco de tempo do leitor neste final de semana.



O calhamaço compõe um quadro de degenerescência que deve se repetir em muitos Estados.

Escrito por Josias de Souza às 19h18

sábado, 28 de novembro de 2009

Descoberto no DF mensalindo do governador Arruda



José Cruz/ABr


Há um escândalo novo na praça. Antes de esmiuçá-lo, cite-se o padre Antônio Vieira:



''Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles''.



Pronto. Evolua-se agora para a nova encrenca.



Aliás, considerando-se o protagonista e o enredo, pode-se dizer que é um escândalo semi-novo.



No epicentro da confusão está o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM.



Trata-se daquele ex-senador que, em passado nem tão remoto, esteve pendurado nas manchetes em posição constrangedora.



Não lembra? Líder de FHC no Senado, Arruda, então filiado ao PSDB, acumpliciara-se a ACM, do ex-PFL, para violar o painel eletrônico do Senado.



Pois bem. Arruda está de volta ao noticiário político-policial. Suspeita-se que tenha reeditado na Câmara Legislativa do DF o mensalão.



No caso de Arruda, um mensalinho. Na essência, mais do mesmo: um esquema de troca de apoio legislativo por propinas.



Nesta sexta (27), munidos de autorização do STJ, agentes da PF foram às ruas. Deram batidas em 24 endereços –21 no DF, um em Goiânia e um em Belo Horizonte.



Recolheram-se papéis e computadores em escritórios e residências de 16 pessoas físicas e jurídicas. Coletaram-se também R$ 700 mil em moeda sonante.



Gente graúda: secretários do governo Arruda, deputados distritais e empresários. A coisa toda começou com uma delação premiada.



Chama-se Durval Barbosa o delator. Era, até esta sexta, secretário de Relações Institucionais do DF, uma espécie de coordenador político de Arruda. Foi demitido nesta tarde.



Barbosa aceitara grudar às roupas equipamentos de escuta ambiental. Fora a reuniões das quais participara o próprio governador.



Captaram-se áudios do barulho. Num deles, Arruda manda distribuir R$ 400 mil a deputados “aliados”. Noutra, manda pagar mais R$ 200 mil.



Entre os endereços varejados nesta sexta, estão as sedes de quatro fornecedores do governo do DF: Infoeducacional, Vertax, Adler e Linknet.



Suspeita-se que a grana tenha vindo daí. Vasculham-se os contratos que ligam essas empresas às arcas do GDF.



O caso foi ao STJ porque é esse o foro privilegiado do governador e dos secretários sob investigação. O relator é o ministro Fernando Gonçalves.



Candidato à reeleição, cotado também para vice do presidenciável tucano José Serra, Arruda passa a ter prioridades mais urgentes.



A política desce a um segundo plano na agenda do governador ‘demo’. Suas prioridades passam a ser policiais.



Retorne-se, por oportuno, ao padre Vieira: ''Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles''.



No escândalo do painel do Senado, Arruda renunciara ao mandato para escapar à cassação. Livrou-se de ficar inelegível.



O eleitorado de Brasília brindou-o com o mandato de governador. E a transgressão resultou num velho vício brasileiro: a impunidade.



A sucessão de escândalos que infelicitam a cena política, um se sucedendo ao outro, o caso anterior se enganchado ao novo, terminam por desafiar Darwin.



Se é verdade que o macaco está pendurado à nossa árvore genealógica, se é fato que saímos do Neandertal para chegar na Luana Piovani, até que evoluímos.



Mas quando se observa a reiteração da corrupção na política, tem-se a impressão de que, nessa área, viceja a teoria da involução.



Não fosse pela presença dos moderníssimos micro-gravadores que o assessor de Arruda usou para gravar o chefe, poderíamos jurar que algumas cenas são ambientadas em cavernas habitadas por hominídeos.

Escrito por Josias de Souza às 19h48

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Pai dos Pobres" provocou milagre econômico no Brasil

Der Spiegel
Jens Glüsing
O Brasil é visto como uma história de sucesso econômico e sua população reverencia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um astro. Ele está na missão de transformar o país em uma das cinco maiores economias do mundo por meio de reformas, projetos gigantes de infraestrutura e explorando vastas reservas de petróleo. Mas ele enfrenta obstáculos.

Elizete Piauí aguarda pacientemente por horas à sombra de uma mangueira. Ela calça sandálias de plástico e veste um short largo sobre suas pernas finas. A 40ºC, o ar tremula neste dia incomumente quente na Barra, uma pequena cidade no sertão, o coração do Nordeste brasileiro. Mas Elizete não se queixa, porque hoje é seu grande dia, o dia em que se encontrará com o presidente, que está trabalhando para fornecer água encanada para sua casa.

* Sérgio Lima/Folha Imagem

Em Sertania (Pernambuco), Lula vistoria as obras da transposição das águas do rio São Francisco



O barulho de um helicóptero sinaliza sua chegada. A aeronave branca sobrevoa a multidão antes de pousar. Uma escolta de batedores acompanha o presidente até a cerimônia.

Lula sai da limusine vestindo uma camisa branca de linho e um chapéu militar verde. Ignorando os dignitários locais em seus ternos pretos, Lula segue direto para a multidão atrás de uma barreira de segurança. "Lula, Papai!", chama Elizete. Ele a puxa até seu peito e aperta a mão de outros na multidão, permitindo que as pessoas o toquem, façam carinho e o abracem. Gotas de suor correm pelo seu rosto corado enquanto pessoas o puxam pela camisa, mas Lula se deixa embeber na atenção. Ele se sente em casa aqui, em uma das regiões mais pobres do Brasil.

O presidente passa três dias viajando pelo sertão. Ele conhece a rota. Ele veio à região pela primeira vez há 15 anos, em campanha, viajando de ônibus e ficando hospedado em locais baratos. Ele fazia paradas em todas as praças, sete ou oito vezes por dia, geralmente realizando seus discursos na traseira de um caminhão. Sua voz geralmente ficava rouca e fraca à noite e ele tinha que trocar sua camisa suada até 10 vezes por dia.

'Ele ainda é um de nós'
Agora ele viaja de helicóptero e carros blindados, com os carros da polícia, com suas luzes piscando, abrindo o caminho ao longo das estradas. Voluntários montam aparelhos de ar condicionado e bufês nos aposentos de Lula, às vezes até mesmo estendem um tapete vermelho. A imprensa critica as despesas, mas isso não incomoda a maioria dos brasileiros, porque eles têm orgulho de seu presidente. Ele chegou ao topo, eles argumentam, então por que não desfrutar de seu sucesso? "Ele ainda é um de nós", diz Elizete, "porque ele é o pai dos pobres".

Lula está familiarizado com o destino dos nordestinos pobres do Brasil. Ele nasceu no sertão, mas sua mãe colocou seus filhos na traseira de um caminhão e os levou para São Paulo, 2 mil quilômetros ao sul. A posterior ascensão de Lula ao poder começou nos subúrbios industriais de São Paulo. Sua mãe foi uma das centenas de milhares de pessoas carentes que deixaram o sertão atormentado pela seca, com seus campos ressecados e animais morrendo de sede, e migraram para o sul mais rico, para trabalhar como porteiros, garçons, operários de construção ou empregados domésticos.

Em um plano para tornar verde esta região árida, Lula está explorando as águas dos 2.700 quilômetros do Rio São Francisco, um rio vital para grandes partes do Brasil. O rio fornece água para cinco Estados, mas ele faz contorna o Sertão. Segundo o plano de Lula, dois canais desviarão água do rio por 600 quilômetros até as áreas atingidas pela seca. "É o mínimo que posso fazer por vocês", Lula diz às pessoas na Barra.

Projeto controverso
O megaprojeto, que exige a superação de uma diferença de altitude de 200 metros, tem um custo estimado de R$ 6,6 bilhões. Lula posicionou soldados na região para escavar os canais. Oito mil trabalhadores labutam nos canteiros de obras enquanto tratores e escavadeiras movem a terra pela estepe. Se tudo correr bem, 12 milhões de brasileiros se beneficiarão com o projeto de transposição de águas, que deverá ser concluído em 2025. É o maior e mais caro projeto de Lula, assim como provavelmente seu mais controverso.

Aqueles que o apoiam comparam Lula ao presidente americano Franklin D. Roosevelt, que represou o Rio Tennessee nos anos 30, para fornecer eletricidade à região, e que lançou o New Deal, um imenso programa de investimento para superar a Grande Depressão. Mas os críticos veem a obra como um imenso desperdício de dinheiro. O projeto também atraiu a ira dos ambientalistas e até mesmo o bispo da Barra já fez duas greves de fome contra ele. Ele teme que o projeto de transposição das águas secará ainda mais o rio, alegando que a irrigação beneficiaria principalmente o setor agrícola.

O bispo não está presente. Dizem que ele está participando de reuniões fora da cidade. Na verdade, o religioso está mantendo discrição. As críticas ao presidente são desaprovadas por sua congregação. Lula fala a linguagem das pessoas comuns, contando histórias de sua juventude aos seus simpatizantes, histórias dos tempos em que sua mãe o enviava para buscar água e ele voltava para casa equilibrando um balde pesado sobre sua cabeça. Ele tinha cinco anos na época.

* AP/Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (à frente), com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, exibe mãos sujas de petróleo na plataforma P-34, em Vitória, Espírito Santo

O Brasil já foi chamado de "Belíndia", um termo cunhado por um empresário que via o vasto país como uma mistura entre a Bélgica e a Índia, um lugar com riqueza europeia e pobreza asiática, onde o abismo entre ricos e pobres parecia intransponível. Lula foi o primeiro a construir uma ponte entre os dois Brasis.

Agora ele é tanto o queridinho dos banqueiros quanto ídolo dos pobres. Com o chamado presidente operário no comando, o Brasil está atraindo investidores de todas as partes do mundo. Jim O'Neill, o economista chefe do Goldman Sachs, inventou a sigla Bric para as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China, prevendo um futuro brilhante para o gigante sul-americano. Mas seus colegas zombaram dele. A China e a Índia certamente tinham perspectivas, mas o Brasil? Por décadas o país era visto como um gigante acorrentado, atormentado por crises infindáveis e inflação.

Potência econômica ascendente
Mas hoje o "B" é a estrela entre os países Bric, com os especialistas prevendo um crescimento de até 5% para a economia brasileira em 2010. O Brasil está atualmente crescendo mais rápido do que a Rússia e, diferente da Índia, não sofre de conflitos étnicos ou disputas de fronteira. O país de 192 milhões de habitantes possui um mercado doméstico estável, com as exportações - carros e aeronaves, soja e minério de ferro, petróleo e celulose, açúcar, café e carne bovina - correspondendo a apenas 13% do produto interno bruto.

E como a China substituiu os Estados Unidos como maior parceira comercial do Brasil no início deste ano, o país não foi severamente afetado pela recessão no mercado americano como poderia ter sido. Os bancos do Brasil são fortes, estáveis e não encontraram grandes dificuldades durante a crise. Mais importante, entretanto, é o fato do Brasil ser uma democracia estável, ao estilo ocidental.

O país pagou sua dívida externa e até mesmo passou a emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo acumulou mais de US$ 200 milhões em reservas e o real é considerado uma das moedas mais fortes do mundo. Especialistas internacionais preveem uma década de prosperidade e crescimento para o país. Lula prevê que o Brasil será uma das cinco maiores economias do planeta em 2016, o ano em que o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos. O país será sede da Copa do Mundo de 2014.

E ainda há os recursos naturais aparentemente ilimitados do Brasil, vastas reservas de água doce e petróleo. O Brasil exporta mais carne do que os Estados Unidos. E a China estaria em dificuldades sem a soja brasileira. Nos hangares da fabricante de aviões, a Embraer, perto de São Paulo, engenheiros brasileiros constroem aviões para companhias aéreas de todo o mundo, incluindo aviões para trajetos menores para a Lufthansa.

Um patriarca extremamente popular
Em outras palavras, o presidente Lula tem bons motivos para estar repleto de autoconfiança. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o estão cortejando, enquanto Wall Street praticamente o venera. Ele é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente.

* Otávio de Souza

Carisma Patriarca extremamente popular, o líder brasileiro é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente do país



Todo o Brasil desfruta da fama de seu presidente que, a menos de sete anos no poder, atualmente conta com um índice de aprovação acima de 80%. A oposição praticamente desapareceu e o Congresso se tornou submisso. Lula dirige o país como um patriarca, tanto que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o está acusando de "autoritarismo" e alertando que o Brasil está no caminho de um capitalismo estatal.

Há um quê de verdade nas alegações de Fernando Henrique. Lula nunca teve confiança na capacidade do mercado de curar a si mesmo e considera que o Estado deve moldar uma nova ordem social. Ele adora projetos impressionantes e gestos nacionalistas. Ele é pragmático, mas despreza especuladores. "Brancos com olhos azuis" levaram o mundo à beira da ruína financeira, ele disse recentemente. Ele falava dos banqueiros.

A crise financeira apenas confirmou o ceticismo de Lula em relação ao capitalismo. Lula acredita que o Brasil lidou melhor com a crise do que outros países porque o governo adotou medidas corretivas desde cedo. Segundo Lula, o combate à pobreza e a distribuição justa de renda não podem ficar aos cuidados do mercado.

Classe média crescente
Sob sua liderança, milhões de brasileiros ingressaram na classe média. A evidência dessa transformação social está por toda a parte: nos shopping centers do Rio e São Paulo, lotados de famílias barulhentas da periferia, ou nos aeroportos, onde mães jovens ficam na fila do balcão de check-in, aguardando para embarcar em um avião pela primeira vez em suas vidas. "A desigualdade entre ricos e pobres está começando a diminuir", diz o economista e especialista em estudos sobre a pobreza, Ricardo Paes de Barros.

A chave para aquela que provavelmente é a maior redistribuição de riqueza na história brasileira é o programa social Bolsa Família, sob o qual uma mãe carente que possa comprovar que seus filhos estão frequentando a escola recebe até R$ 200 por mês do governo. A primeira vista pode não parecer muito, mas este subsídio do governo ajuda milhões de pessoas a sobreviverem no Nordeste brasileiro.

Especialistas inicialmente criticaram o programa como sendo apenas uma esmola, mas agora ele é visto como um modelo mundial. Mais de 12 milhões de lares recebem os subsídios, com grande parte do dinheiro indo para o Nordeste. Graças ao programa Bolsa Família, a região antes atingida pela pobreza começou a prosperar. Muitos nordestinos abriram pequenas empresas ou lojas e a indústria descobriu o Nordeste como mercado. "Agora a região está crescendo por conta própria", diz Paes de Barros.

Lula foi abençoado pela sorte. Seu antecessor, Fernando Henrique, já tinha estabilizado a economia, que sofria com a hiperinflação, quando foi ministro da Fazenda em 1994. Ele impôs uma reforma da moeda ao país e implantou leis que forçaram o governo a adotar políticas com responsabilidade fiscal. Lula não mudou nada disso.

Não havia necessidade de Lula reinventar a política econômica e social do Brasil. O país tem uma tradição de controle total da economia pelo governo que remonta aos anos 30.
Leia outras reportagens de jornais internacionais

* Le Monde: Aspirações
de grandeza do Brasil na diplomacia mundial justificam a visita de Ahmadinejad
* El País: Espionagem andina no estilo da Guerra Fria
* O 1º presidente da União Europeia se coloca como
um mediador diante dos conflitos mais complexos
* Le Monde: Em Puebla,
no México, táxis rosa são reservados às mulheres



O plano Marshall próprio do Brasil
Os centros nervosos da política econômica do país ficam abrigados em dois imponentes arranha-céus no centro do Rio. O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que conta com seus escritórios em uma torre de aço e vidro, foi criado com a ajuda americana e usando o KFW Banking Group da Alemanha como modelo. Ele financiou uma versão brasileira do Plano Marshall.

Nos anos 90, o BNDES administrou com sucesso a privatização de muitas estatais brasileiras. Hoje, ele fornece assistência a fusões e aquisições corporativas, ajuda empresas em dificuldades e financia os investimentos estratégicos do governo.

O BNDES é altamente respeitado. Acredita-se que seja em grande parte livre de corrupção e ele paga os mais altos salários do país. "Há um ano, os bancos estrangeiros batiam à minha porta perguntando se o Brasil estava preparado para a crise financeira", diz Ernani Teixeira, um dos diretores financeiros do banco. Teixeira conseguiu tranquilizá-los, notando que o BNDES tinha separado R$ 100 bilhões em reservas adicionais. No ano passado, o banco emitiu mais empréstimos e garantias de empréstimos do que o Banco Mundial - e até apresentou um lucro respeitável.

O segundo pilar do milagre econômico brasileiro fica diagonalmente no outro lado da rua: um bloco de concreto, iluminado à noite com as cores nacionais, verde e amarelo, é a sede do grupo de energia semiestatal Petrobras. A empresa planeja investir US$ 174 bilhões nos próximos quatro anos em plataformas de perfuração, navios e outros equipamentos para explorar as grandes reservas de petróleo além da costa do Brasil.

Há um ano e meio, a Petrobras descobriu novas reservas de petróleo sob o leito do oceano. Mas o petróleo será difícil de extrair, por estar situado abaixo de uma camada de sal em profundidades de pelo menos 6 mil metros. A expectativa é de que os poços comecem a produzir daqui pelo menos seis anos. A receita desse petróleo será depositada em um fundo que o governo usará principalmente para financiar novas escolas e universidades.

Lula apresentou recentemente uma legislação que regulamentaria a exploração das reservas de petróleo submarinas, fortalecendo assim o monopólio da Petrobras. Especialistas temem que Lula esteja criando um monstro corporativo poderoso e corruptível.

Obstáculos burocráticos
O imenso apagão que ocorreu simultaneamente em grandes partes do país, há duas semanas, teria sido um sinal de alerta de que o governo está indo além de sua capacidade? A modernização da infraestrutura decrépita do Brasil está avançando, mas lentamente. Bilhões de dólares em investimentos em portos, construção de estradas e no setor de energia existem apenas no papel, com a implantação atrapalhada por uma burocracia kafkaniana e um Judiciário moroso. Além disso, o país também não teve muito sucesso no combate à criminalidade.

* Ricardo Nogueira/Folha Imagem

O apagão em 18 Estados brasileiros levanta dúvidas sobre a real capacidade do Brasil decolar

Lula tem mais um ano no poder, após ter resistido à tentação de manipular a Constituição para garantir sua reeleição para um terceiro mandato. Ávido em preservar seu legado, ele tem buscado a indicação de sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua sucessora, apesar da resistência dentro do próprio Partido dos Trabalhadores.

Rousseff, que foi integrante dos grupos guerrilheiros de esquerda após o golpe militar de 1964 e que posteriormente passou anos presa, tem uma reputação de tecnocrata competente, mas é vista como inacessível e autoritária. Ela está acompanhando o presidente em suas viagens pelo país, inaugurando novas estradas e usinas elétricas. Lula a apoia de modo tão determinado que até parece estar fazendo campanha para si mesmo.

Ela também está com ele em seu giro pelo Nordeste, apesar dos médicos terem removido um tumor de sua axila há poucos meses. Acredita-se que ela esteja curada e ela atualmente usa uma peruca após a quimioterapia. Seu rosto é pálido e seu sorriso parece congelado. O presidente a puxa para o seu lado quando ele caminha até o microfone, e ele menciona o nome dela repetidas vezes.

Elizete Piauí, ainda completamente embriagada pelo seu encontro com Lula, a viu pela televisão. Ela sabe que Dilma é a candidata de Lula e ela fará campanha pela ministra, apesar de que preferiria que Lula permanecesse no poder. "Eu votarei em qualquer pessoa que ele indicar", ela diz.

Lula também prometeu retornar. Antes do fim de sua presidência, ele planeja fazer outra viagem ao Nordeste para ver o quanto progrediram as obras no Rio São Francisco. Talvez, espera Elizete, ele terá atendido seu maior desejo até lá e ela poderá servir a ele um copo de água - de sua própria torneira, em sua própria casa.

Tradução: George El Khouri Andolfato

O sub-udenismo - Emir Sader

Por mais diferentes que possam parecer as condições históricas, a polarização política atual se parece incrivelmente àquela de décadas atrás entre Getúlio e a oligarquia paulista. Alguns personagens são os mesmos – os Mesquitas, por exemplo -, outros se agregam a eles – os Frias, os Civitas -, os partidos tem outros nomes – PSDB no lugar da UDN; PSOL, no lugar da Esquerda Democrática; FHC no lugar de um udenista carioca, mas o xodó da direita paulista de então, Carlos Lacerda; intelectuais acadêmicos mudam de nome, mas repetem o mesmo papel.

O anti-getulismo era o mote central que aglutinava a direita e setores de esquerda que, confundidos, se somavam àquela frente. Na defesa da “liberdade” de imprensa, supostamente em risco, quando o monopólio era total – com exceção da Última Hora – em favor da oposição. Liberdade de educação, supostamente em risco, a educação privada, pelos avanços do “estatismo” getulista.

Em defesa do Estado, supostamente assaltado por sindicalistas e pelo partido do Getúlio – o PTB – e pelos sindicalistas, petebistas e comunistas. Excessiva tributação do Estado, populismo de aumentos regulares do salário mínimo. Denúncias de corrupção. Alianças internacionais com intuitos de abocanhar governos em toda a região, tendo Perón como aliado estratégico.

Era a polarização da guerra fria: democracia contra ditadura, liberdade contra totalitarismo. O Estadão se referia nos seus editoriais ao governo “petebo-castro-comunista”, quando falava do governo Jango, uma continuação do de Getúlio.

A Esquerda Democrática, que tinha surgido dentro da UDN, depois se abrigou no Partido Socialista, se opunha ferreamente à URSS (ao stalinismo), aos partidos comunistas e ao getulismo, como um bloco único. Era composta bascamente de intelectuais, os principais – como Antonio Cândido, Azis Simão, entre outros – fizeram autocrítica por terem finalmente ficado com a direita contra Getúlio.

O Partido Comunista, que em 1954 tinha ficado contra Getúlio, somando-se à oposição, teve que sentir a reação popular, quando os trabalhadores, assim que souberam do suicídio de Getúlio, se dirigiram em primeiro lugar à sede do jornal do PC, para atacá-lo. Um testemunho dramático revela os dilemas em que tinha se metido o PCB: Almino Afonso, extraordinário parlamentar da esquerda, ia se somar à marcha, apoiada pelos comunistas, contra Getúlio. Quando a marcha chegou ao Largo São Francisco, onde se somariam os estudantes, Almino se deu conta que a marcha era liderada pelas madames representantes da mais reacionária burguesia paulista. E, nesse momento, se perguntou, onde tinham se metido, com quem, que papel estavam jogando. E se deu conta que estavam do lado errado, com a direita, contra Getúlio.

Atualmente, o bloco opositor ao governo Lula está composto de forças as mais similares àquelas que se opunham a Getúlio. O governo Lula aparece sendo acusado de coisas muito similares: estatismo, impostos, sindicalistas, corrupção, apropriação do Estado para fins partidários, gastos excessivos com políticas sociais, alianças internacionais que distanciam o país da aliança com os EUA, favorecendo a lideres nacionalistas, etc.,etc. Então e agora, a oposição conta com a SIP – Sociedade Interamericana de Imprensa -, que pregou e apoiou a todos os golpes militares no continente.

Como agora, a frente direitista foi sempre derrotada pelo voto popular, a ponto que a UDN chego a pedir o “voto de qualidade”, com o pretexto de o voto de um médico ou de um engenheiro deveria valer mais do que o voto de um operário, no seu desespero de sentir que perdia o controle do país para uma coligação apoiada no voto popular.

Da mesma forma que depois da morte de Getúlio, se chocam o desenvolvimento e o “moralismo” privatizante da UDN, um projeto nacional e popular e o revanchismo de 1932, que pretende que a elite paulista é a locomotiva da nação, quando ela se apóia no trabalho dos milhões de trabalhadores superexplorados pelas grande empresas internacionalizadas, milhões de trabalhadores, entre os quais se encontram os retirantes do nordeste, que foram construir a grandeza de São Paulo.

O sub-udenismo atual – o primeiro como tragédia, o segundo como farsa - está tão fadado ao fracasso e a desaparecer de cena – FHC, Tasso Jereissatti, Bornhausen, Marco Maciel, Pedro Simon – como desapareceram seus antecessores, a começar por Carlos Lacerda – de que FHC é uma triste caricatura. Inclusive porque agora lhes falta um elemento essencial – poder bater nas portas dos quartéis, pelo que eram chamados de “vivandeiras de quartel”. Resta-lhes o traje escuro do luto, cor preferida de Lacerda e que cai tão bem em FHC – a cor do corvo, a ave de rapina, ave de mau agouro, a quem só resta ser Cassandra de um caos que souberam produzir, mas que foi superada exatamente pela sua derrota e seu fracasso. Sobre o seu cadáver se edifica o Brasil para todos.

Postado por Emir Sader às 04:53

domingo, 15 de novembro de 2009

Relação com a Globo 'ajudou bastante', lembra Collor; senador diz ter pensado, na véspera, que perderia a eleição

15/11/2009 - 07h00

Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em Brasília


"Ajudou, sem dúvida nenhuma ajudou. Ajudou bastante." Dessa forma, o hoje senador pelo PTB-AL e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello iniciou a resposta à pergunta se a relação com a Rede Globo o ajudou nas eleições de 1989. "Ajudou, sobretudo, a evitar armadilhas, algo que estivesse se tentando montar contra a minha candidatura", completou.

Há 20 anos, no dia 15 de novembro de 1989, ocorreu o primeiro turno das primeiras eleições presidenciais no Brasil após o fim da ditadura militar (1964-1985).

Relações com a Globo eram 'excelentes'; meios de comunicação temiam governo 'comunista', diz Collor

*

Numa longa entrevista ao UOL Notícias em Brasília, Collor tratou de vários dos tópicos mais difíceis da sua campanha de 1989 à Presidência, pelo PRN (Partido da Reconstrução Nacional).

Além da relação com a Globo, falou sobre as pesquisas e as conversas que teve antes de lançar-se candidato, inclusive com Silvio Santos, dos problemas que teve no governo de Alagoas, da decisão de pôr no ar o depoimento de Miriam Cordeiro na reta final da campanha, da edição do polêmico debate do segundo turno entre ele e Lula e do papel do tesoureiro Paulo César Farias, o PC, em sua campanha.

Em 1992, após uma série de denúncias de corrupção envolvendo seu governo e apontadas na CPI do PC, o Congresso aprovou o impeachment de Collor. Entre os que votaram pelo impeachment na Câmara estava o então deputado Cleto Falcão, um dos articuladores da candidatura de Collor - famoso por um brinde em Pequim que festejou o governador de Alagoas como futuro presidente do Brasil.

Collor afirmou também, na entrevista, que, na véspera do segundo turno, ao saber de uma pesquisa que o colocava apenas um ponto à frente de Lula, achou que perderia a eleição.






Globo
"Dr. Roberto [Marinho, 1904-2003, empresário, dono da Globo] era muito jornalista na sua essência", disse Collor. "Em algumas conversas, ele chegou a mim e disse, meu filho, acho que você está muito irritado, você não deve usar certos termos, isso está indo contra você", contou. Collor, no entanto, não quis repetir os termos que Marinho recomendou que ele deixasse de usar.

Na campanha de 1989, Collor ganhou projeção com a imagem de um candidato que combateria a corrupção e os altos salários do funcionalismo. Pare desta imagem foi construída ainda à frente do governo de Alagoas, quando Collor anunciou uma série de reformas acompanhadas por uma economista chamada Zélia Cardoso de Mello, indicada pelo ministro da Fazenda de José Sarney (PMDB), Dílson Funaro, segundo Collor. Zélia seria a ministra da Economia de Collor, responsável pela implantação do Plano Collor, para tentar controlar a inflação, e pelo "confisco da poupança" e de outras aplicações financeiras em 1990.

Collor diz como surgiu a imagem de 'caçador de marajás' e diz que não estudava seus gestos e palavras

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Além da relação com a Globo, Collor diz que sua candidatura foi vista como "simpática" por outros grupos de comunicação. "O que eu percebia é que havia um receio dos meios de comunicação mais importantes é que um eventual governo comunista" pudesse ter um efeito negativo sobre os meios de comunicação.

Na sua avaliação, esses grandes complexos de comunicação estavam à procura de um candidato - e o encontraram em Mario Covas (PSDB). Mas mesmo Covas era tido por alguns deles como "ligado aos comunistas", diz Collor, devido a posições que defendeu quando liderava a bancada do PMDB na Constituinte de 1988.

A saída para o tucano teria sido fazer o famoso discurso defendendo que o Brasil precisava passar por um "choque de capitalismo". "Quando fez o famoso discurso do choque de capitalismo, no Senado Federal, esse pronunciamento foi feito de um modo pré-determinado", para que os jornais televisivos entrassem ao vivo. As chamadas nas TVs coincidiam, acha Collor, "com o parágrafo mais pontiagudo do pronunciamento".

RETRATO DA VOLTA À DEMOCRACIA

* Marcelo Zocchio/Folha Imagem

Em parede de São Paulo, cartazes de Collor cobrem os de Lula na disputa de segundo turno

* CONFIRA A CAMPANHA ELEITORAL EM 53 IMAGENS
* DEPOIS DE 20 ANOS, COLLOR CANTA "LULA LÁ"
* VEJA A CRONOLOGIA DA ELEIÇÃO EM INFOGRÁFICO
* OPINE: O QUE MUDOU NA DEMOCRACIA BRASILEIRA?

"Apesar disso, o candidato Mario Covas não conseguiu passar essa mensagem para o eleitorado e não decolou." Depois de Mario Covas, acha Collor, houve uma tentativa com Ulysses Guimarães (PMDB). "Minha candidatura foi de alguma maneira tida como simpática porque não havia outra alternativa."

Collor foi chamado, numa capa da revista "Veja", de "Caçador de Marajás". A "Veja", depois, seria um dos veículos de comunicação que publicariam uma série de denúncias, apuradas por uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que levariam ao impeachment de Collor em 1992.

Segundo Collor, a palavra "marajá" veio de um "popular", num comício à noite no sertão. Ao referir-se a funcionários públicos que tinham "supersalários", ele teria gritado: "Não Fernando, é tudo marajá". "E aquela palavra me soou como uma palavra mágica."

O rol de "palavras mágicas" de Collor seria completado pela referência aos "descamisados" e "pés-descalços". Estas duas expressões já era usadas pelos peronistas argentinos para referir-se às parcelas mais pobres da população e foram recuperadas por Collor.

* Chico Ferreira/Folha Imagem

Covas (PSDB), Lula (PT) e Brizola (PDT), juntos no segundo turno

* Veja mais imagens dos candidatos em campanha
* Em 1989, a 'briga' da Globe era com Silvio Santos, não com a Record

Ele, no entanto, afirma que essas palavras não eram estudadas. "Na minha campanha não houve marqueteiro", diz. Mas como, se Collor virou uma espécie de sinônimo de candidato construído pelo marketing? Com pausas entre cada uma das palavras, como se as estivesse medindo, ele responde: "Talvez por terem entendido que meus gestos e as minhas palavras fossem coisas estudadas, o que na realidade nunca foram."

Collor avalia que foi o candidato que melhor usou a mídia eletrônica. Na sua opinião, Lula fica, nesse quesito, com o segundo lugar. "Lula tinha uma música que era fantástica", lembra. "Dormia e acordava cantando a música do Lula."

Para Collor, os apoios que recebeu de grandes setores do PFL e do PMDB foram fundamentais para que, mesmo à frente de um pequeno partido, pudesse chegar à Presidência.

Segundo turno
Durante a entrevista, Collor defendeu que Brizola seria mais difícil de bater que Lula - em especial porque Brizola tinha mais penetração no empresariado. Por outro lado, "era notória a indisposição que havia entre o governador [do Rio] Brizola e Roberto Marinho".

Com relação ao uso de Miriam Cordeiro, ex-companheira de Lula que deu depoimento no horário eleitoral dizendo que o petista a pedira para fazer um aborto na década de 1970, Collor classificou de lamentável o episódio e chamou-o de "percalço de campanha".

Collor comenta Silvio Santos, debate e Miriam Cordeiro e diz que achou que perderia a eleição na véspera do 2º turno

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* Autor de 'Lula-lá' conta como surgiu a música
* Em 1989, briga da Globo era com Silvio Santos

Afirmou que ainda não faria novamente: "Nem teria feito na época": "O candidato é o que menos sabe do que vai no programa gratuito", disse. "Se alguém tiver de ser responsabilizado serei eu como candidato. O que eu digo é que eu não tomei conhecimento. Em última analise, tudo que de ruim acontece numa campanha é o candidato. Tudo que de bom acontece numa campanha, aí é a equipe.

Ouvido pelo UOL Notícias, o responsável pela campanha de Collor na TV, o publicitário Chico Santa Rita, afirmou que Collor participou da decisão de por o vídeo no ar.

Ainda sobre o segundo turno, Collor disse acreditar que a edição do segundo debate entre ele e Lula é fiel ao que aconteceu. "No primeiro debate eu não fui bem. E isso ficou explícito na edição que fizeram", para em seguida comparar a edição de debates à de partidas de futebol: é preciso refletir o resultado do jogo, argumenta. Depois da enorme polêmica em 1989, a Globo hoje tem a política de não mais editar debates.


Para ver as fotos mencionadas no texto, clique no seguinte LINK:

http://noticias.uol.com.br/especiais/eleicoes-1989/ultnot/2009/11/15/ult9005u10.jhtm



Veja a íntegra da entrevista sobre 1989 de Collor ao UOL Notícias



UOL Celular

sábado, 7 de novembro de 2009

FHC diz que não vai "baixar o nível" contra petistas e crítica indefinição no meio ambiente

Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou neste sábado (6) que não está em campanha eleitoral e que evitará continuar o debate com petistas.

Em texto publicado no jornal "O Estado de S.Paulo" no domingo passado, FHC traçou paralelos entre o governo atual e o do ditador argentino Juan Domingos Perón e afirmou que "pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do 'autoritarismo popular' vai minando o espírito da democracia constitucional".

Ontem à noite, o presidente Lula criticou o PSDB por treinar cabos eleitorais no Nordeste. A operação, segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", com a previsão de gasto R$ 450 mil, o programa tem como meta o recrutamento e qualificação de mão-de-obra - voluntária ou contratada - para a campanha presidencial de 2010. "É um pouco o que o Hitler dizia, para os alemães pegarem os judeus. Ou seja, vamos treinar gente para não permitir que eles sobrevivam", afirmou Lula, em discurso no 12º Congresso do PC do B, em São Paulo.

"Não quero entrar no baixo nível. Não estava falando de pessoas, estou falando de um sistema", disse FHC a jornalistas após conferência sobre governança em São Paulo. "Não vou ficar me alongando nesta discussão. Já disse tudo o que tinha a dizer sobre este assunto", completou.

Lula também afirmou no encontro do PC do B que tem "convicção absoluta" que FHC tinha certeza que seu governo seria "um fracasso" e que isso permitiria que o tucano retornasse ao poder. "É isso que magoa. Então, eu lamento, porque o mundo não deveria ser assim. A gente quando perde uma coisa, a gente tem que torcer para o outro fazer."

Em nota após o discurso, FHC disse que Lula age como um psiquiatra que interpreta sentimentos alheios e que sempre torceu para que o governo do petista desse certo.

O ex-presidente criticou, durante a conferência, a política ambiental do governo Lula. "Não cabe ao Brasil posições antiquadas do tipo 'eles sujaram, eles limpam'. Nós sujamos também", afirmou.

"O Brasil sempre teve posição de vanguarda no meio ambiente. Foi assim na negociação do protocolo de Kyoto. Teria sido mais positivo para Copenhague uma posição mais afirmativa", disse ele, referindo-se ao fato de o governo ainda não ter apresentado uma posição fechada para a próxima reunião sobre clima, na Dinamarca, ainda neste ano

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um réquiem para FHC (Gilson Caroni Filho - Carta Maior)

O texto do ex-presidente tucano, publicado em vários jornais no domingo, revela um erro de cálculo político sem precedentes. Contrariando seus aliados, que desejavam vê-lo distante da campanha do PSDB para presidente em 2010, FHC trouxe para o próximo pleito a comparação entre as políticas de seu governo e as do governo Lula: a única polarização que a direita não queria. Imaginando-se um estrategista, virou um fardo pesado para as possíveis candidaturas de José Serra e de Aécio Neves. O artigo é de Gilson Caroni Filho.

Gilson Caroni Filho

As palavras são as armas. E foi acreditando em sua capacidade de manejá-las com destreza que Fernando Henrique Cardoso tentou atacar o presidente Lula em seu artigo publicado no jornal O Globo, do último domingo. Em sua vaidade desmedida, imaginava-se escrevendo um texto inaugural, um manifesto histórico capaz de desvendar a cena política, retirando a oposição do estado letárgico em que se encontra. O efeito foi exatamente o contrário.

O texto mal escrito, sem sentido em muitos parágrafos, revela um erro de cálculo político sem precedentes. Contrariando seus aliados, que desejavam vê-lo distante da campanha do PSDB para presidente em 2010, FHC trouxe para o próximo pleito a comparação entre a política econômica do governo e a da gestão petista: a única polarização que a direita não queria. Imaginando-se um estrategista, virou um fardo pesado para as possíveis candidaturas de José Serra e de Aécio Neves. Triste para o prestigiado sociólogo, deplorável para o experiente político.

Comparações são ociosas, mesmo porque cada polemista tem o seu tempo na história. Mas não é de hoje que o sonho do“"príncipe dos sociólogos" é ser um Carlos Lacerda redivivo. Vê a si próprio como um panfletário versátil e demolidor, capaz de usar as palavras como metralhadoras giratórias nas mãos de um guerrilheiro. O problema é que seu estilo é tosco e seus escritos ininteligíveis. Não é capaz de açular os medos da classe média, mesmo usando os velhos ingredientes que vão da ameaça de uma república sindicalista a um quadro incontrolável de corrupção. Não aprendeu que, sem o apoio das bases sociais que o acompanham, seu suposto prestígio pessoal conta pouco.

Para criar condições de instabilidade superestrutural não bastam editoriais, artigos e noticiários de jornalistas de direita. É preciso que as classes dominantes se encontrem excepcionalmente reunidas em torno de um só objetivo. Para isso, do outro lado, tem que haver um governo fragilizado, com escassa base de apoio, incapaz de promover crescimento econômico com redistribuição de renda. Reeditar uma“"Marcha da Família com Deus, pela liberdade" não é o troféu fácil que o voluntarismo pedante imagina.

Quando escreve que "é possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois, se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista", deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública", seu objetivo é tão claro como raso.

É uma volta ao passado como farsa. Aos tempos em que os nacionalistas lutavam por uma solução independente para extração e refino do petróleo, de importância estratégica para o desenvolvimento do país, enquanto os entreguistas definiam-se abertamente pela exploração do produto pelo capital estrangeiro. Claro que estamos tratando de realidades distintas no tempo e no espaço, mas a motivação da direita é idêntica. E é a ela que a inspiração de FHC se dirige, inebriado como se cavalgasse uma fulgurante carreira política. O desespero e o patético andam sempre de mãos juntas. Ainda mais se lembramos "quem cevou os facilitadores de negócios na máquina pública" no período que vai de 1994 a 2002.

Criticando o que chama de "autoritarismo popular", o candidato a polemista prossegue: "Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam."

A recorrência aos riscos de uma república sindicalista mostra a linhagem golpista do artigo de FHC, mas a falta de prudência, indispensável para quem pensa estar escrevendo um novo Manifesto dos Coronéis, leva a indagações. O autoritarismo de mercado, marca do seu mandato, é exemplo de democracia? A era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia fortalecia as instituições do Estado Democrático de Direito? Ou não seria exatamente o oposto? Um bloco de poder composto pelo agronegócio, grandes corporações midiáticas e uma burguesia desde sempre associada, que privilegiava a ampliação crescente das margens de lucro, ignorando os custos sociais que isso implicava. Qual a autoridade política do ex-presidente para interpelar o atual?

O que foi seu governo senão uma tentativa desastrosa de adaptar o aparelho de Estado às exigências criadas pelo neoliberalismo, contendo, a todo custo, as reivindicações dos trabalhadores do campo e da cidade? No final, com uma impopularidade recorde, a superestrutura política entrou em crise e os aliados contemplaram a rota de afastamento. É a isso que FHC nos convida a voltar?

Outra observação interessante pode ser extraída desse trecho: "Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas?". Aqui, o lacerdista frustrado ultrapassou qualquer limite da sensatez. Abriu o flanco, ao permitir a inversão da pergunta que faz.

Como destacaram, em 1997, Cid Benjamim e Ricardo Bueno, no "Dossiê da Vale do Rio Doce", "o Brasil levou 54 anos para construir e amadurecer esse gigantesco complexo produtivo. O governo FHC pretende vendê-lo, recebendo no leilão uma quantia que corresponderá, mais ou menos a um mês de juros da dívida interna". Em maio daquele ano, a Vale foi vendida pelo governo federal por R$ 3,3 bilhões. Em 2007, seu valor de mercado estava em torno de R$103 bilhões. Em nenhum outro período a máquina estatal foi usada para transferir recursos públicos para o capital privado como nos dois governos do tucanato. Foi a esse continuísmo que a população deu um basta em outubro de 2002.

O que se pode depreender das linhas escritas pelo tucano que queria ser corvo? FHC se especializou na arte do embarque em canoas onde o lugar do náufrago está antecipadamente destinado ao canoeiro de ocasião. Julgava estar redigindo um artigo que funcionaria como divisor de águas. Mas afundou junto com ele. Escreveu o seu próprio réquiem, levando junto velhos próceres do PSDB. Um trabalho e tanto. Extremamente apropriado para leitura no dia 2 de novembro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

FHC ataca 'inércia da oposição' e governo Lula

AE - Agencia Estado

SÃO PAULO - Na contramão do que defendem setores do PSDB, que querem evitar a comparação entre o governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva e os oito anos de gestão tucana na Presidência da República, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a "inércia da oposição" e voltou a lançar ceticismo sobre o futuro do País nas mãos da administração petista. Três dias após a publicação de artigo no Estado, no qual usou expressões como "subperonismo" e "autoritarismo popular" para classificar a atual gestão, FHC traçou ontem um diagnóstico duro sobre o governo Lula.



"Escrevi esse artigo, não é a primeira vez que digo isso. Eu pus tudo junto. Sinto que há um risco de desfazer o que a gente pensou que já estivesse consolidado. É preciso estar atento a esse risco", afirmou ontem o tucano, durante encontro em que discutiu a conjuntura econômica com especialistas ligados ao PSDB, no Instituto FHC, em São Paulo. No artigo, o ex-presidente afirmou que, "se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão".



Durante os debates de ontem, Fernando Henrique disse ser necessário "politizar" os números sobre crescimento, porque "as estatísticas enganam muito". "A linguagem política é a que estou fazendo aqui. O número vazio não diz nada. Temos de politizar o número. Cresceu 5%, mas cresceu sobre zero", afirmou em referência às expectativas de crescimento em 2010 e 2009, respectivamente. Usando um discurso comparativo, o tucano disse ainda que na sua gestão a economia cresceu acima da média mundial e agora cresce abaixo.



Ao comentar o que chamou de inércia da oposição e da sociedade, FHC disse "que todo mundo fica com medo de falar contra". O próprio tucano comentou que se expõe muito. "Me exponho além dos limites da minha prudência", disse. "Poderia ficar em casa."



Na esteira das discussões no Congresso sobre os recursos do pré-sal, FHC aproveitou para dizer que esse é um debate em torno de recursos que ainda "não existem". "Estamos desfocados porque o governo desfocou por questões políticas", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.