domingo, 21 de fevereiro de 2010

Elio Gaspari: ‘Teologia da urucubaca vicia o tucanato’



João Wainer/Folha
Alheio à lei eleitoral, que marca o início da campanha para daqui a cinco meses, o PT levou a candidatura de Dilma Rousseff à estrada.


O PSDB observa a cena do alto do muro, o ninho de sua predileção. José Serra, o candidato tucano, ainda se diz um não-candidato.



Além de comparecer à fase inaugural da refrega com um pseudocandidato, o tucanato lida com outro drama: a calibragem do discurso.



O repórter Elio Gaspari trata do tema em artigo levado às páginas desde domingo (21). Está disponível também na Folha.



Lendo-o, verifica-se que, quanto ao discurso, a tribo do bico grande até se arrisca a descer do muro. Mas salta do lado errado.



Vai reproduzido abaixo o texto de Gaspari:





“O tucanato parece disposto a organizar um comitê pela eleição de Dilma Rousseff. Só isso explica que insista em profetizar catástrofes.



No dia 5 passado, o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas, presidente do Instituto Teotônio Vilela, advertiu para o risco de uma crise de inadimplência na economia, provocada pelos altos custos financeiros do crédito das famílias.


Segundo o noticiário do partido, 'os especialistas alertam que o aumento do desemprego no país pode levar a uma onda de calotes'.



É a teologia da urucubaca, que teve em Lula seu grande devoto quando, durante a campanha de 1998, disse que 'como Deus é grande, e ainda não foi privatizado, o desemprego subiu'. (Um mês depois, Deus negou-lhe o emprego que pedia.)


A realidade não ajudou os tucanos. Em janeiro deste ano foram criados 181.419 empregos, um recorde na série estatística iniciada em 1992.


Uma coisa é a discussão da festa da banca, bem outra é a urucubaca de uma crise decorrente da expansão de crédito.



Quando um cidadão paga uma prestação de R$ 100, na média, só R$ 70 referem-se à mercadoria que adquiriu, mas isso não significa que a patuleia irá ao calote porque não pode pagar o que comprou.



Entre 2003 e hoje, o crédito das famílias praticamente dobrou. Compraram-se carros e trocaram-se fogões, equipamentos que identificam uma nova classe média.


Se há brasileiros satisfeitos porque compraram bens que estavam fora do seu alcance, essa é a boa notícia. (Imagina esquentar o jantar no fogão, como acontecia antes da chegada do forno de micro-ondas com sua prestação de R$ 33.)


Em setembro de 2007, um ano antes da crise da banca, a taxa de calotes estava em 7,3%, um índice razoável. Em junho do ano passado a porcentagem subiu para 8,6%. Hoje está em 7,8%.


A crítica de Vellozo Lucas aos custos financeiros dos empréstimos pode sinalizar o início de um novo PSDB. Finalmente, José Serra prevaleceria sobre a ekipekonômica de Fernando Henrique Cardoso.



Se, e quando, isso acontecer, em vez de associar a expansão do crédito ao fim do mundo, o tucanato descobrirá que pode defender menos juros para o andar de cima e mais bem-estar para o de baixo".

Escrito por Josias de Souza às 06h43

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