quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Itamaraty confirma estupro de brasileiras em onda de ataques no Suriname

O Itamaraty confirmou nesta terça-feira que brasileiras foram estupradas durante a onda de violência da semana passada contra estrangeiros na cidade de Albina, no Suriname. O ministro interino de Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou que ocorreram os abusos sexuais e disse que um segundo avião da Força Aérea Brasileira chegará nesta quarta-feira a Paramaribo para buscar brasileiros feridos e outros interessados em deixar o país vizinho. Não há registro oficial de mortes, e o governo pede cautela na divulgação de que há desaparecidos.

Patriota, afastou a possibilidade de novos ataques contra brasileiros na região. Segundo ele, o governo surinamês intensificou a segurança e garantiu que o ataque na véspera de Natal foi um "ato isolado".
Ele informou que no avião enviado a Paramaribo estará uma funcionária da Secretaria Especial de Atenção à Mulher, para dar assistência às brasileiras vítimas de violência, e uma diplomata especializada em temas consulares.

O ataque a brasileiros e outros estrangeiros que vivem no Suriname deixou 25 feridos há seis dias depois que um brasileiro foi acusado de matar um surinamês. Segundo informações de testemunhas, quilombolas surinameses, chamados de "marrons", atacaram cerca de 200 brasileiros e chineses que viviam na região de Albina, a 150 km de Paramaribo, muitos deles ligados ao garimpo ilegal.

O ministro interino disse que 17 brasileiros que estão no Suriname demonstraram interesse em retornar ao Brasil no voo que sairá amanhã de Belém para buscá-los. O horário de partida da aeronave será definido até a manhã desta quarta-feira (30).
Na relação dos brasileiros que deixarão o Suriname estão os cinco feridos que ainda estão hospitalizados --inclusive um homem com risco de amputação de um dos braços em decorrência de cortes provocados por facão e outro que está com ferimentos graves na mandíbula.

O ministro confirmou ainda que de 10 a 20 mulheres --entre brasileiras e estrangeiras-- foram vítimas de estupro na noite do último dia 24.

O padre José Virgílio da Silva, que dirige a rádio Katólica e deu assistência aos brasileiros vítimas do ataque, afirmou que há pelo menos sete desaparecidos --inclusive brasileiros. De acordo com relatos de brasileiros que moram no Suriname, quilombolas surinameses teriam matado e jogado os corpos das vítimas nos rios e matas da região.

Patriota não desmentiu as informações, mas optou pela cautela. "Não estou afirmando que não haja desaparecidos. Estamos observando as informações com cautela. Até o momento, não houve comprovação [sobre os desaparecidos]".

Também nesta terça-feira, o Itamaraty divulgou uma nota sobe a dificuldade de definir que há desaparecidos na região.

"Em sua grande maioria, os brasileiros que vivem na região de Albina trabalham em garimpos no interior do Suriname e da Guiana Francesa e costumam passar semanas na floresta, incomunicáveis. Por esse motivo, é necessário aguardar antes de considerar 'desaparecido' qualquer desses cidadãos", diz o texto.

O ministro interino reiterou o que o embaixador do Brasil em Paramaribo, José Luiz Machado e Costa, havia dito mais cedo sobre o esforço do governo para documentar os cerca de 15 mil brasileiros que vivem no Suriname. Segundo Patriota, há cinco anúncios diários nas rádios locais chamando os brasileiros para fazer o cadastramento.

De acordo com as autoridades brasileiras, a maioria dos brasileiros que vive no Suriname é ilegal. Há informações de que, além da área de garimpo, eles também estejam envolvidos com prostituição e tráfico de drogas. Apesar disso, Patriota negou que haja resistências da população e do governo surinameses aos brasileiros.

"O que nos foi dito [pelas autoridades surinamesas] é que a comunidade brasileira é muito bem vista e que há uma predisposição positiva", afirmou Patriota. Segundo ele, há um conselho de cidadãos, formado por 16 brasileiros voluntários, que funciona de forma intensa no Suriname.

"Os brasileiros nunca tiveram problemas no Suriname. Sempre houve uma tolerância muito grande com os brasileiros. Quando a embaixada perguntava quem queria voltar, não havia demonstrações de interesse", dissera mais cedo o embaixador brasileiro no Suriname, que classificou os ataques de "atos de selvageria e de violência extrema".

domingo, 27 de dezembro de 2009

Padre brasileiro fala em sete mortos em ataque no Suriname; números oficiais apontam 14 feridos

* Reprodução/Google



A letra A marca a localização da cidade de Albina, na fronteira do Suriname com a Guiana Francesa, ambos vizinhos do estado brasileiro do Amapá

Do UOL Notícias*
Em São Paulo



O padre brasileiro José Vergílio, que comanda a rádio Katólica FM no Suriname, afirma que o número de mortos no ataque a brasileiros na noite de Natal na cidade de Albina (150 km de Paramaribo), ao norte do país, chega a sete. O padre esteve no local no sábado (26), de acordo com relato publicado no site da rádio.

Em entrevista ao canal de televisão Globo News, Vergílio confirmou os sete mortos e afirma que um bairro inteiro foi destruído. "Noventa e um brasileiros foram atendidos com ferimentos graves e com muitas fraturas", disse.

O número de mortos e feridos não foi confirmado oficialmente, mas a Embaixada do Brasil no Suriname afirma que deve divulgar neste domingo a lista dos brasileiros atacados. O último número confirmado é de 14 feridos, sete em estado grave.

Uma vítima do ataque afirmou à Folha Online que ao menos quatro pessoas teriam morrido na ação.

Moradores locais teriam atacado com facões e machados cerca de 80 brasileiros, além de chineses, que vivem na cidade. Os surinameses supostamente teriam também estuprado mulheres e ferido uma grávida, que perdeu o bebê.


O incidente foi motivado por um crime supostamente cometido por um brasileiro. "Pareciam uns animais partindo pra cima do povo. Cena de guerra. Era pedrada, facada. Vi gente com o rosto todo cortado. Prenderam algumas pessoas em salas do hotelzinho, despejaram gasolina e atearam fogo", contou Regiane Carneiro de Oliveira, 26, ao jornal "Folha de S.Paulo". A mulher se salvou pulando no rio, e das águas viu os surinameses atacarem os companheiros.

Albina, uma cidade com cerca de 5.000 moradores, é o principal ponto de cruzamento do Suriname para a Guiana Francesa. Os brasileiros que vivem em Albina trabalham, principalmente, no garimpo de ouro e estavam acampados à beira de um rio. Essa atividade gera tensão entre brasileiro e surinameses, incluindo ameríndios, que enfrentam uma alta taxa de desemprego, e também quilombolas, chamados de "marrons", que dominam politicamente a região fronteiriça, segundo o embaixador no Suriname, José Luiz Machado e Costa.

Segundo o embaixador, os brasileiros que estavam na região foram levados pelas autoridades do Suriname para a capital Paramaribo.

Segundo o diplomata, os brasileiros estão agora hospedados em dois hotéis na capital surinamesa. O exército surinamês disse que quase cem brasileiros e chineses foram levados a uma base local das Forças Armadas para protegê-los e, na sexta-feira, foram transportados à capital do país.

O governo brasileiro deve enviar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o país, informou neste domingo o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), mas ainda não há horário definido para a missão.

*Com informações da Folha Online, da Reuters e da BBC Brasil

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ataque deixou pelo menos 4 mortos no Suriname, diz brasileiro


GIULIANA VALLONE
da Folha Online


O ataque de surinameses aos brasileiros em Albina deixou vários mortos e feridos, disse à Folha Online Paulo da Silva, 46, um dos garimpeiros vítimas da violência. "Tem muita gente machucada, muitos morreram. Um amigo meu ligou agora dizendo que morreram quatro pessoas no hospital em Saint-Laurent [na Guiana Francesa]", disse ele por telefone do Hotel0Esmeralda, na capital Paramaribo.

Silva, que mora no Suriname há 13 anos, foi para o país participar da atividade do garimpo, saído de Belém (Pará). Ele contou que a violência começou depois que um brasileiro matou um surinamês que, segundo ele, costumava agredir homens e mulheres do Brasil.

Muitos dormiram dentro d'água para escapar da morte; ouça relato
Brasileiros temem chacina no Suriname, diz embaixador
Envie seu relato sobre o ataque contra brasileiros no Suriname
Suriname declarou independência da Holanda em 1975; saiba mais
Brasileiros sofrem ataque na noite de Natal no Suriname

"O rapaz começou a bater nas pessoas por volta das 17h. À noite, ele bateu em um brasileiro que estava jantando em um restaurante, e ele revidou com uma faca", disse Silva, dizendo ainda que o surinamês costumava consumir drogas. "Aí eles [surinameses] decidiram revidar, não quiseram nem saber."


Reprodução
Imagem mostra local do ataque a grupo de brasileiros no Suriname; segundo testemunha, quatro morreram
Imagem de TV mostra local do ataque a grupo de brasileiros no Suriname; segundo testemunha, quatro morreram

De acordo com o relato, cerca de 500 surinameses invadiram o acampamento em que os brasileiros ficam após o garimpo e atacaram por volta de 200 pessoas --entre homens, mulheres e crianças. "A gente não estava preparado, foi uma violência muito grande", afirmou Silva.

Segundo ele, os homens utilizavam paus, facões, pedras e o que tinham a mão para agredir os brasileiros. Além disso, eles saquearam os dois supermercados do local, propriedade de imigrantes chineses e explodiram um posto de gasolina.

De acordo com a BBC Brasil, 20 brasileiras, incluindo uma mulher grávida, teriam sido estupradas durante o incidente.

Silva contou ainda que viu um homem surinamês "cortar a barriga" de uma jovem chamada Érica, de 22 anos, grávida de oito meses. "Estão dizendo aqui que ela morreu, mas eu ainda não sei se é verdade", afirmou.

Arte Folha Online

O garimpeiro disse que muitos brasileiros passaram a noite no mato, ou dentro da água para fugir dos ataques. "Todos dormiram no mato, dentro d'água, para escapar da morte."

Silva é uma das cerca de 30 pessoas hospedadas no hotel Esmeralda, na capital Paramaribo, para onde a maioria dos atacados foi transferida. De acordo com ele, há mais brasileiros em outros hotéis.

Ele afirmou também que o ministro da Justiça do Suriname foi ao local mais cedo, e que os brasileiros "pediram justiça pelo que aconteceu e ajuda, já que muitas pessoas ficaram sem nada após o ataque".

Albina, que possui cerca de 10 mil habitantes, tem um grande contingente de brasileiros que vão trabalhar com garimpo no outro lado da fronteira --o que é proibido pelas leis daquele território, que ainda pertence aos franceses.

Ajuda

O embaixador brasileiro no Suriname, José Luiz Machado e Costa afirmou que ainda não há uma lista de nomes deste grupo porque, segundo ele, muitos deles não possuem documentos.

De acordo com Costa, "a chancelaria brasileira e o Ministério de Defesa analisam a possibilidade de enviar um avião da Força Aérea com roupas e medicamentos para o local, mas o envio depende das autoridades do Suriname.

Costa disse ainda que dificilmente os brasileiros voltarão para Albina após o ataque. "Não acredito que queiram voltar. Eles estão falando em chacina, em assassinato em massa, eles estão muito assustados", relatou o embaixador.

Segundo ele, os brasileiros que moram em Albina sequer trabalham no país. Eles costumam garimpar na Guiana Francesa, onde a atividade é proibida pelo governo francês. "Eles ficam esperando a vigilância baixar a guarda e vão para lá, e só ficam acampados na beira do rio em Albina", explicou.

Procurada pela Folha Online, a Embaixada do Brasil no Suriname não confirmou as mortes.

Segundo as informações, o embaixador José Luiz Machado e Costa está neste momento visitando os hospitais em que estão as vítimas e terá informações atualizadas mais tarde.





quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lula se reunirá com Obama em Copenhague

Washington, 17 dez (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá nesta sexta-feira em Copenhague com seu colega americano, Barack Obama, no último dia da Cúpula da ONU sobre a Mudança Climática (COP15).

Um membro do alto escalão do Governo dos Estados Unidos disse à Agência Efe que, além de Lula, Obama também se encontrará com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, e os primeiros-ministros da China, Wen Jiabao, e da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen.

Obama conversou com Lula nesta quarta-feira para tentar levar adiante um acordo substancial contra a mudança climática na cúpula de Copenhague.

Segundo a Casa Branca, nessa conversa, o presidente americano destacou "a importância que os dois países continuem trabalhando estreitamente para conseguir um acordo concreto que signifique um verdadeiro progresso e criar uma ação global para enfrentar a ameaça da mudança climática".

Obama também destacou o papel-chave do Brasil na questão e explicou as medidas tomadas nos EUA e seu compromisso para um acordo em Copenhague que inclua redução de emissões de gases poluentes, o financiamento aos países pobres e um regime transparente de compromissos.

Com Medvedev, Obama conversará principalmente sobre o tratado de redução de armamento nuclear pendente entre os dois países e que substituirá o Start, de 1991, que venceu no último dia 5.

Os dois presidentes expressaram sua determinação para conseguir um novo acordo "o mais rápido possível". Ambos esperavam tê-lo pronto neste mês, mas ainda há empecilhos nas negociações.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, declarou hoje que o Executivo americano seguirá "trabalhando neste acordo até que tudo esteja resolvido".

Na terça-feira passada, Gibbs tinha descartado que Medvedev e Obama pudessem assinar o novo acordo em Copenhague ao dizer que os EUA não esperam que as negociações possam terminar nos próximos dias.

Já com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, o presidente americano tentará destravar as negociações em Copenhague.

Os EUA exigem que a China ponha por escrito seus compromissos para poder verificar seu cumprimento, o que enfrenta resistência de Pequim.

Por outro lado, a China exige dos EUA uma maior contribuição financeira para que os países em desenvolvimento se adaptem às tecnologias limpas e considera que Washington deve fazer mais para cortar suas emissões poluentes.

Washington anunciou hoje que dará US$ 100 bilhões ao ano aos países pobres para que se adaptem à mudança climática. A China respondeu à atitude com uma relativa aproximação nas posições sobre verificação.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Historiadora retrata Helena, a mulher que "causou" a guerra de Troia

A Grécia do fim da Idade do Bronze era um lugar tão esquisito que um viajante do tempo familiarizado com os gregos da época de Sócrates e Platão provavelmente ia achar que se perdeu num universo paralelo.

Em vez de filosofia, participação popular na política e soldados-cidadãos, o turista temporal ia se deparar com templos-palácios suntuosos, túmulos faraônicos para a nobreza, escribas controlando a distribuição de cada bezerro e cada grão de cevada.

Reprodução
Afresco batizado de "senhora de Micenas" dá pistas sobre as aristocratas gregas; historiadora retrata Helena, da guerra de Troia
Afresco batizado de "senhora de Micenas" dá pistas sobre as aristocratas gregas; historiadora retrata Helena, da guerra de Troia

As pessoas já falavam uma forma arcaica de grego, mas, tirando isso, seria possível jurar que eram babilônios ou egípcios. Nesse mundo, diz Bettany Hughes, viveu a lendária Helena de Troia.

Hughes, historiadora por Oxford, conseguiu construir uma narrativa erudita e envolvente em "Helena de Troia", recém-lançado no Brasil.

Ao tentar investigar a existência de uma "Helena histórica" (mais ou menos como outros tentam recriar o "Jesus histórico" ou o "Sócrates histórico"), a historiadora anda com desteza pelas ondas de choque que surgem do mito da mulher mais bela do mundo.

Espartanas da época clássica, turistas romanos, pintores vitorianos e poetas modernistas --todos, em alguma medida, transformaram Helena em musa.

Mas, para Hughes, o melhor modelo para entender a personagem de Homero são as aristocratas do Egeu na Idade do Bronze tardia, pouco antes do ano 1200 a.C. Elas eram, de fato, retratadas de forma que faria corar suas descendentes mais recatadas --e indefesas-- do período clássico da Grécia.

Poderosas

Afrescos, joias e objetos de arte deixados pela civilização micênica, como é conhecida essa versão "faraônica" da cultura grega por causa de Micenas, seu principal centro, sugerem um papel social significativo para mulheres belas e imponentes.

Seguindo, ao que tudo indica, a moda cretense (povo anterior que os gregos micênicos conquistaram e absorveram culturalmente), muitas delas aparecem com corpetes apertadíssimos que deixavam os seios descobertos --às vezes com mamilos realçados por maquiagem.

Cenas que parecem ser de rituais, envolvendo espadas, joias, o Sol e a Lua, árvores e danças enigmáticas, também são quase sempre protagonizadas por mulheres nos afrescos micênicos.

Uma das damas é retratada com armadura completa e elmo feito de presas de javali na cabeça --apetrecho guerreiro que, em outros exemplos de arte micênica, só aparece associado a homens.

Assim como outros, Hughes postula que as mulheres micênicas tinham o papel de senhoras e sacerdotisas da fertilidade (daí o holofote iconográfico sobre suas curvas e seios), o que lhes conferia prestígio político.

A beleza e a feminilidade da Helena do mito, portanto, sinalizaria algo mais do que mera estética: uma dama poderosa, talvez com status semidivino, venerada por seus súditos.

A segunda peça importante do quebra-cabeças da "Helena histórica" fica do lado leste do estreito de Dardanelos. Escavações na Turquia ao longo dos séculos 19 e 20 revelaram que a localização atribuída tradicionalmente a Troia realmente abrigava uma cidadela imponente no fim da Idade do Bronze, e que a fortaleza foi destruída por volta de 1200 a.C.

Textos nos arquivos do Império Hitita, então estabelecido mais para o interior turco, sugerem que a área de Troia era um ponto de tensão entre micênicos e hititas. Assim, não seria inconcebível que Troia tivesse mesmo sido destruída por atacantes gregos, usando a bela Helena como pretexto.

Dificuldades

O quadro geral faz um bocado de sentido, mas é nesse ponto que a musa de Hughes acaba deixando a historiadora na mão. É um bocado difícil fazer o salto entre os incidentes e personagens específicos de Homero na Ilíada e o quadro relativamente impessoal das relações entre micênicos e asiáticos que aparece nos arquivos hititas.

E certamente não há quaisquer referências diretas a Helena, seu marido corneado Menelau e os guerreiros gregos Aquiles e Odisseu (Ulisses) nos textos diplomáticos do Império Hitita.

Também é possível interpretar a iconografia "feminista" dos micênicos como mero peso morto cultural, já que eles copiaram avidamente os sofisticados cretenses (assim como, mais tarde, os romanos copiaram os gregos) sem necessariamente aderir aos mesmos valores sobre o papel das mulheres.

Por último, como a própria Hughes relata, os palácios micênicos na Grécia continental, bem como outras cidadelas poderosas do Mediterrâneo Oriental, acabaram tendo o mesmo destino de Troia no espaço de uma ou duas gerações: foram arrasadas por aparentes invasores. Não é impossível que, na verdade, os micênicos tenham sido apenas vítimas, tal como os troianos.

Nenhum desses pecadilhos, no entanto, tira o sabor da obra. Tal como na guerra de Troia, Helena é um belo pretexto para um cenário muito maior e mais fascinante do que ela própria.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Lula e Dilma: o Brasil nos trilhos

Internacional| 07/12/2009 | Copyleft







O principal trunfo que o Brasil guarda e apresenta, apesar de todas as suas desigualdades permanecerem acentuadas, e seus problemas de segurança e outros temas que também estão na pauta, é o de ser nessa altura um país na contramão – que, na verdade, é a melhor mão da história: é um país cuja pobreza e/ou miséria está diminuindo a olhos vistos, ao contrário de outros onde, mesmo se ricos e melhor organizados, ela está aumentando (como é o caso de muitos países europeus, inclusive a Alemanha). O artigo é de Flávio Aguiar.

Flávio Aguiar

Cobertura compartilhada da viagem do Presidente Lula à Alemanha: Revista do Brasil/Rede Brasil Atual – Carta Maior.

Na sexta-feira, dia 4 de dezembro, a viagem do Presidente Lula e sua comitiva à Alemanha continuou com a visita a Hamburgo, no norte do país, quase fronteira com a Dinamarca.

A viagem de ida foi feita num trem-bala especial, que saiu de Berlim às 8h20 da manhã, ainda amanhecendo. O trem viajou a cerca de 230 km/h, e percorreu a distância em menos de uma hora e meia. O presidente e comitiva viajaram no vagão presidencial alemão, além de outros especiais, e nós, os jornalistas, tivemos um vagão à disposição, com direito a café, sucos e outros acepipes comestíveis. Tudo muito simpático, organizado pela Siemens, interessada em projetos ferroviários no Brasil, pelo governo alemão (responsável pela iniciativa), com colaboração da Rede Ferroviária Alemã, a Deutsche Bahn.

Durante a viagem o Presidente conversou com engenheiros, empresários e até com os maquinistas da locomotiva. Esse trem tem uma peculiaridade: tração não apenas na locomotiva, mas em todos os vagões.

Não sei se foi uma estratégia do Presidente, ou se a coisa aconteceu por acaso. O fato é que lá pelas tantas, faltando cerca de meia hora para chegarmos a Hamburgo, anunciou-se que ele viria até o vagão dos jornalistas para dar uma entrevista. Fizeram-se os arranjos rapidamente: um vagão de trem não é propriamente um estúdio, e deu trabalho para por as diversas câmeras e os diversos jornalistas em posição. Tudo pronto, houve alguns minutos de espera e... quem apareceu foi a Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Dilma tem acompanhado o Presidente (segundo suas próprias declarações) em suas viagens ao exterior sempre que a pauta envolve o PAC, de que ela é coordenadora, e era o caso nesta viagem, sobretudo em Hamburgo, como se verá. Mas também é fato que se pode ver que há uma estratégia concertada do Presidente em “expô-la” a diversas circunstâncias da política externa brasileira. A Ministra acompanhou ao vivo e em cores diversas das conversações do Presidente, por exemplo, com George Bush, Barack Obama, Sarkozy, Gordon Brown, Ângela Merkel, dentre outras.

Durante a entrevista, a Ministra explicou qual o interesse do Brasil naquela viagem específica, de Berlim a Hamburgo. É um plano ambicioso. Trata-se de criar e motivar uma concorrência para a construção de um trem de alta velocidade ligando Campinas – São Paulo – Rio de Janeiro. Os pontos principais da concorrência (que envolve outras empresas e outros países, como o Japão) são: 1) o custo da construção; 2) o custo final do transporte para o usuário; 3) transferência de tecnologia, que permita ao Brasil construir seu próprio sistema depois. Esse projeto, cuja concorrência será lançada em 2010, é o projeto piloto para a construção de outras redes, no sentido norte – sul e oeste – leste, além de interligações entre, por exemplo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, conforme depois foi exposto em Hamburgo. Devido a esse item 3), a motivação para a concorrência não é apenas internacional, pois implica também a formação de um conglomerado da iniciativa privada no Brasil, e de Institutos Tecnológicos com apoio na rede universitária. Em suma, é um plano ambicioso de “por o Brasil nos trilhos”, rearticulando a capacitação de rede ferroviária brasileira, desestimulada desde que, nos tempos da ditadura, se optou pelo transporte rodoviário, consumidor dos derivados do petróleo, também pelo estímulo ao uso “descontrolado” do automóvel como principal meio de transportes das classes médias e abastadas do país.

Esse plano também tem a ver com a posição do Brasil na conferência sobre o clima em Copenhague, que se desenvolve nesse momento na Dinamarca, como foi também exposto em Hamburgo, onde o Brasil está levando uma ousada proposta de redução de emissão de gás carbono na atmosfera.

Em Hamburgo houve um seminário organizado pela universidade local e pelas autoridades da cidade-estado (a Alemanha tem três cidades com status de estado: Hamburgo, Bremen e Berlim), na casa de governo (Rathaus). O alvo desse seminário era composto de empresários alemães, os brasileiros que acompanhavam a comitiva presidencial e outros, como jornalistas, acadêmicos especializados no Brasil, etc. Havia cerca de 600 pessoas presentes ao seminário. De quebra, a Universidade de Hamburgo concedeu ao Presidente o título de Doutor Honoris Causa, que, no entanto, ele disse que aceitaria receber oficialmente só depois de cumprir o seu mandato. Há também um movimento para criar um Centro ou Núcleo [academicamente a diferença é relevante] de Estudos Brasileiros na universidade.

Hamburgo foi um dos primeiros estados (naquele tempo não existia uma Alemanha) europeus fora do eixo Grã-Bretanha/Portugal/França a reconhecer a independência do Brasil e a fazer um acordo de cooperação econômica, isso em 1827, como lembrou o Presidente em sua fala.

O seminário consistiu em exposições, feitas por diversos ministros, sobre a “oportunidade-Brasil” como local de investimento. A iniciativa tem pano de frente um futuro promissor; mas seu pano de fundo é a diminuição que houve, em 2008/2009, dos investimentos/ano da Alemanha no Brasil, que, tendo chegado a 25 bilhões de dólares, caíram para 13,5. Em todo caso, o pano de frente promissor é o Brasil, e as exposições foram eloqüentes em bater nessa tecla.

É claro que, de todas as exposições, cujos temas passavam por indústria, comércio, serviços, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, as principais de mais comentadas foram as do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, da Ministra Dilma e a do Presidente. Pode-se dizer que o “alvo inspirador” das três foi a demonstração de que havia um forte conjunto de iniciativas por parte do governo no sentido de ampliar e consolidar o mercado interno, e que foi isto que ajudou o Brasil a se recuperar mais rapidamente do que o conjunto das outras economias diante da crise financeira que varreu o mundo a partir de 2007 e sobretudo a partir de setembro de 2008 com a quebra do Lehman Brothers. O Presidente atacou duramente a pregação neoliberal sobre as vantagens do “Estado Mínimo”, além de fazer um discurso eloqüente sobre o conceito de que o principal investimento que o governo tem a oferecer como garantia para o investidor internacional é o “esforço de capacitação” do próprio povo brasileiro, em temas que vão desde a capacidade econômica para o consumo até sua formação educacional, tecnológica, cultural e cidadã.

Lula foi muito aplaudido, diversas vezes, também ao retomar sua história de menino pobre, “filho de mãe que nasceu e morreu analfabeta”, no seu dizer pitoresco, que chegou à presidência, e que, por isso [ao contrário do que seus opositores gostam de apregoar], sabe o valor da educação e da formação em todos os seus níveis.

O principal trunfo que o Brasil guarda e apresenta, apesar de todas as suas desigualdades permanecerem acentuadas, e seus problemas de segurança e outros temas que também estão na pauta, é o de ser nessa altura um país na contramão – que, na verdade, é a melhor mão da história: é um país cuja pobreza e/ou miséria está diminuindo a olhos vistos, ao contrário de outros onde, mesmo se ricos e melhor organizados, ela está aumentando (como é o caso de muitos países europeus, inclusive a Alemanha).

Fica uma questão importante a considerar. Ficou claro nos discursos, sobretudo no do Presidente, que o carro-chefe (a expressão vem a calhar) da recuperação econômica pós-crise do Brasil foi ainda a indústria auto-motiva e automobilística. Para quem tem metas ambiciosas de redução de emissões de CO2, junto com o esforço de por o país “nos” e “sobre” trilhos, esse é um tema estratégico nada trivial, e que merece uma reflexão mais profunda no sentido de motivar, econômica, social, política e culturalmente, o transporte coletivo em larga escala e a construção mais eficaz e consistente do sentimento de solidariedade que isso implica. Mas de momento, pelo menos, o Brasil vai melhor, obrigado.

Para não esquecer: nessas andanças para lá e para cá, houve conversas também sobre a crise em Honduras e seus desenvolvimentos presentes e futuros. Mas isso fica para outros artigos.


Fotos: Flávio Aguiar

domingo, 6 de dezembro de 2009

Maçonaria também quer 'expulsar' governador Arruda

Além dos processos de impeachment e de expulsão do partido, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM) também enfrenta um processo de expulsão da maçonaria, informa reportagem da revista "Época" deste domingo (6).

Segundo a reportagem, um integrante da assembleia federal da entidade fez um pedido de expulsão na última quarta-feira (2). Arruda participa da maçonaria com o grau de mestre e a decisão deve sair em 15 dias, sem possibilidade de recurso.

A "Época" afirma que Arruda teve uma ascensão considerada meteórica na hierarquia da organização, passando, em apenas um ano, do grau mais baixo para uma posição de influência. Segundo as regras da maçonaria, os novos membros são aceitos somente após uma investigação, e não podem cometer deslizes éticos.

Arruda é suspeito de participar de um esquema de corrupção, que consistiria na distribuição de recursos para a base aliada na Câmara Legislativa do DF. De acordo com investigações da Procuradoria, a suspeita é de que os recursos tenham vindo de empresas que prestam serviços ao governo.

As investigações vieram à tona no dia 27 de novembro, depois que a Polícia Federal realizou buscas e apreensões nas casas e gabinetes de diversas autoridades do Distrito Federal.

A base das investigações são gravações feitas por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda. Em troca de redução de pena, ele fez um acordo de delação de pena e flagrou supostos pagamentos de propina a políticos do DF.

Arruda questiona as gravações e diz que elas foram deturpadas por Durval. O governador afirma ainda que o dinheiro que ele recebeu do ex-secretário, em 2006, foi declarado à Justiça Eleitoral

Midiamax

sábado, 5 de dezembro de 2009

Câmara do DF põe para ‘andar’ 2 pedidos de impeachment

José Cruz/ABr
Dos oito pedidos de impeachment protocolados contra José Roberto Arruda, a Procuradoria da Câmara Legislativa do DF acatou dois.

Um deles é assinado pelo presidente do PT-DF, Chico Vigilante.

O outro traz o jamegão de um advogado, Evilásio Viana dos Santos.

Ambos ignoram o vice Paulo Octávio (DEM), que também está sob suspeição.

O impedimento de governadores de Estado é regulado pela lei 1.079, de 1950. Anota no artigo 75 o seguinte:

“É permitido a todo cidadão denunciar o governador perante a Assembléia Legislativa, por crime de responsabilidade”.

Guiando-se por esse trecho da lei, a procuradoria da Câmara do DF entendeu que os demais pedidos de impeachment eram incabíveis.

Por quê? Foram apresentados não por pessoas físicas, mas por partidos e entidades. A lista inclui PSOL, PT, PSB, CUT e uma ordem dos “ministros evangélicos”.

O parecer da Procuradoria vai às mãos do vice-presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT). Ele responde interinamente pela presidência.

O titular o cargo, Leonardo Prudente (DEM), licenciou-se da presidência depois da exibição do vídeo em que aparece enfiando dinheiro nas meias.

Patrício deve remeter os dois pedidos de impechment que passaram pelo crico da Procuradoria à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Dali, os processos vão ao plenário. Há 24 votos em jogo. Para que as peças sejam aprovadas são necessários 16.

Antes da quizumba que estourou à sua volta, o governador ‘demo’ do DF dispunha de maioria folgada na Câmara. Uma maioria, sabe-se agora, nutrida a panetone$.

Apenas seis deputados faziam oposição a Arruda. Ou seja, o impeachment só passa se a bancada pró-Arruda sofrer uma sangira de dez votos.

Difícil, dificílimo. Mas não impossível. Nos últimos dias, quatro legendas abandonaram o barco avariado de Arruda: PSDB, PSB, PDT e PPS.

Escrito por Josias de Souza às 17h21

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Político sem mandato relatará processo contra Arruda

Chama-se José Thomaz Nonô o relator do processo de expulsão aberto pelo DEM contra o governador José Roberto Arruda.

Trata-se de um ex-deputado federal de Alagoas. Exerceu seis mandatos. Em 2006, disputou o Senado. Perdeu.

Ficou em terceiro lugar (9,66% dos votos), numa eleição que marcou o retorno de Fernando Collor (44,05%) à vida pública.

Deve-se a escolha do nome de Nonô ao presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ). Por que um ex-deputado?

Para Rodrigo, uma pessoa distanciada da cena envenenada de Brasília terá mais “isenção” para julgar o processo contra Arruda.

Consultado pelo telefone, Nonô aceitou a incumbência. Ele é advogado, promotor aposentado. Na Câmara, angariou o respeito dos pares. Escalou postos de relevo.

Foi alçado à 1ª vice-presidência da Casa na conturbada gestão de Severino Cavalcanti (PP-PE).

Um presidente que teve de renunciar ao mandato depois de ter sido pilhado recebendo ‘mensalinho’ de um concessionário de restaurante na Câmara.

Nonô volta ao palco para lidar com o mensalão do governo ‘demo’ do Distrito Federal. Impôs uma condição a Rodrigo Maia.

Exigiu liberdade para julgar de acordo com os elementos que forem carreados para os autos do processo disciplinar.

O ex-deputado alagoano entra no caso por conta de uma renúncia relâmpago. Em reunião da Executiva do DEM, Rogrigo designara um outro relator.

O diabo é que o escolhido, José Carlos Machado, um obscuro deputado de Sergipe, renunciou meia hora depois de ter aceitado descascar o abacaxi.

Escrito por Josias de Souza às 23h13

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arruda ameaça e DEM desiste de ‘expulsão sumária’

Partido tende a abrir processo e analisar defesa do filiado

Arruda leva a faca aos dentes: 'Se o partido radicalizar comigo, radicalizo também'

Ao final de uma reunião tensa com integrantes da cúpula do DEM, José Roberto Arruda lançou no ar uma frase enigmática:

“Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”, disse o governador do Distrito Federal, em timbre de ameaça.

Ficou boiando na atmosfera a impressão de que Arruda dispõe de munição. Pior: Levado ao pelourinho, não hesitaria em abrir o paiol.

A conversa com os mandachuvas do DEM consumiu duas horas da tarde desta segunda (30).

Deu-se em Águas Claras, a residência oficial do governador do DF. O encontro foi tenso. Começou com as explicações de Arruda.

Na essência, expôs aos companheiros de partido o mesmo trololó que repetiria depois aos repórteres.

Desqualificou Durval Barbosa, o ex-secretário que se converteu em delator junto ao Ministério Público.

Reconheceu o recebimento de verbas. Disse que a coisa fora contabilizada. Não convenceu.

Coube a Demóstenes Torres (GO) eletrificar o ambiente. Primeiro, o senador soprou.

Disse a Arruda que ele tem “grande chance” de safar-se das acusações de corrupção no âmbito judicial.

Elogiou a competência dos advogados do governador –José Eduardo Alckmin e Flávio Cury—, presentes à conversa.

Depois, Demóstenes mordeu. Afirmou que, no âmbito partidário, Arruda está sujeito aos rigores do estatuto do DEM. Prevê, para transgressões graves, a expulsão sumária. Demóstenes soou duro:

“Vou votar pela expulsão sumária. Me perdoe a franqueza. Mas, daqui a pouco, vou dizer isso lá fora e você pode se sentir traído. Então, prefiro dizer agora”.

Fez-se, por alguns segundos, um silêncio de cemitério. O senador Heráclito Fortes (PI), que se reunira com Arruda na noite da véspera, interveio.

Na contramão de Demóstenes, sugeriu que o partido se limitasse a nomear uma “comissão de alto nível” para acompanhar as investigações abertas contra Arruda.

O deputado ACM Neto (DEM-BA) saiu-se com uma fórmula intermediária. Propôs a abertura de um processo disciplinar. Coisa que poderia resultar em mera advertência, suspensão ou, no limite, a expulsão do partido.

E Demóstenes: “Já que minha opinião é divergente, mantendo a posição”. Foi socorrido pelos líderes do partido no Congresso. Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder na Câmara, disse que votaria na mesma linha de Demóstenes.

José Agripino (DEM-RN), líder no Senado, informou que também pendia para a expulsão sumária. Sobrevieram as vozes de Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, de Alberto Fraga (DF), deputado licenciado e secretário de Arruda, e do senador Adelmir Santa (DF).

Realçaram a conveniência de o partido facultar a Arruda o direito de defesa. Algo que seria tolhido na hipótese de ser adotado o rito sumário.

Um dos advogados do governador disse que, privando Arruda de exercitar a sua defesa, o partido incorreria em método próprio da Inquisição.

Demóstenes não se deu por achado. Promotor licenciado, o senador faz uma analogia entre o procedimento político e uma ferramenta judicial.

Compara a expulsão sumária a uma “medida cautelar” à qual costumam recorrer os juízes para afastar preventivamente dos cargos gestores públicos sob suspeição.

Para Demóstenes, a expulsão a toque de caixa não privaria Arruda do direito de defesa, que seria exercido a posteriori.

Convencendo-se da inocência de Arruda, o partido poderia reinseri-lo em seus quadros.

Arruda cobrou “solidariedade” do partido. A mesma compreensão que o DEM dispensara a ACM no caso da violação do painel secreto do Senado.

Lembrou que, no escândalo de 2000, o PSDB, seu partido na época, o abandonara. Mas o DEM, então PFL, apoiara ACM.

Já na fase das despedidas, Arruda saiu-se com a frase incômoda. Vale a pena repetir: “Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”.

Da residência de Águas Claras, os ‘demos’ rumaram para o apartamento de Agripino. Já haviam se reunido ali antes da conversa com Arruda.

Reproduziu-se o dissenso. Um pedaço do partido, Demóstenes à frente, apegado à tática do mata-e-esfola.

Outro naco agarrado à fórmula ACM Neto: abertura de processo, apresentação da defesa e, só então, o julgamento.

Divididos, os ‘demos’ foram ao apartamento do deputado Paulo Bornhausen (SC). Ali, aguardava-os o pai do anfitrião, Jorge Bornhausen.

Incorporaram-se ao grupo outros ‘demos’ ilustres. Entre eles o senador Marco Maciel (PE). Somaram-se à corrente que defendia a abertura de processo.

A decisão do DEM será anunciada até o final do dia. De madrugada, caminhava-se para a abertura do processo.

O ritmo não terá a rapidez desejada por Demóstenes. Mas pretende-se cuidar para que também seja tão lento.

Premido pela força das evidências que emparedaram Arruda, o DEM espera resolver a encrenca em 15 dias.

Uma semana para a apresentação da defesa do governador. Mais uma semana para análise de um relator a ser nomeado por Rodrigo Maia.

Em seguida, o processo será submetido à deliberação da Executiva nacional do partido.

Torça-se para que Arruda sinta-se desamparado. A essa altura, a prometida radicalização do governador interessa vivamente à platéia.