domingo, 24 de janeiro de 2010

República Dominicana e Haiti se aproximam após terremoto

da Efe, em Porto Príncipe

O terremoto do dia 12 de janeiro em Porto Príncipe serviu para colocar à prova a relação entre República Dominicana e Haiti e permitiu aos dominicanos, muito criticados por seu tratamento em relação aos habitantes do país vizinho, dar mostras de uma grande solidariedade aos haitianos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi um dos que destacou com maior clareza esta solidariedade: "Desde o começo desta crise o governo da República Dominicana veio dando assistência com generosidade e rapidez a seu país vizinho, Haiti, e estamos muito agradecidos", disse.

A magnitude da crise humanitária criada pela catástrofe desencadeou uma reação imediata da República Dominicana, cujo presidente, Leonel Fernández, foi o primeiro chefe de Estado, e até agora o único, que visitou o território haitiano para se interessar por seus habitantes.

A ajuda humanitária em forma de remédios, médicos, comida, água, equipamentos e maquinaria chegou também nas primeiras horas vindos da República Dominicana que colocou também disposição de seus "irmãos", como muitos dominicanos chamam os haitianos, vários hospitais próximos à fronteira para a transferência dos feridos mais graves.

Uma boa mostra desta solidariedade dominicana é a febril atividade com a qual, desde as 4h da madrugada da cada dia trabalham as equipes móveis dos Refeitórios Econômicos do Estado.

O subadministrador destes refeitórios, Ramón Jiménez, explicou que o governo pôs à disposição do povo haitiano dez cozinhas móveis em Porto Príncipe e sete mais na passagem de fronteira de Jimaní para dar de comer às pessoas necessitadas.

"O povo está muito contente conosco", disse, e mostrou uma fotografia tirada com sua própria câmera na qual se vê um cartaz de agradecimento de um grupo de beneficiados dos refeitórios: "Muito obrigado, presidente Leonel Fernández e o povo dominicano".

Desde o dia seguinte ao terremoto cada uma destas cozinhas prepara entre dez mil e 15 mil pratos de comida, que depois é transportada aos acampamentos onde os haitianos se instalaram após o tremor.

"Se não fosse por nós, aqui teria acontecido uma explosão social", comentou Jiménez, destacando que os haitianos aceitam de bom grado esta ajuda do país vizinho.

"Nós não discriminamos os haitianos, na República Dominicana gostamos deles. O que acontece é que há pessoas que nos querem prejudicar e sempre falam isso", assinalou em referência às críticas em relação ao país por seu tratamento aos haitianos.

Embora não haja números oficiais, estima-se que cerca de um milhão de haitianos morem no país vizinho, a maioria em situação irregular, dedicados a trabalhos agrícolas, hotelaria, construção e outros setores.

Apesar da boa vontade das duas partes, o certo é que os problemas na fronteira foram historicamente um foco de tensões entre ambos os países. A passagem de milhares de haitianos em direção à República Dominicana é origem de problemas para os quais até agora não se encontrou uma solução definitiva.

Apesar de tudo, crises graves como esta fazem com que tensões sejam esquecidas e ambas as partes fiquem lado a lado: uma para ajudar, outra para receber ajuda.

"Foi uma ajuda em massa, na medida em que pudemos. Fomos o primeiro país a chegar. A reação do presidente Leonel Fernández foi rápida, enviou as equipes de socorro, o comitê de operações de emergência...", comentou à Efe o ministro conselheiro da embaixada dominicana em Porto Príncipe, Pastor Vázquez.

"Não somente é o governo dominicano, mas também o povo dominicano que está aqui ajudando os irmãos haitianos depois do terremoto", acrescentou.

"Somos dois países fronteiriços e sempre acontecem certas situações (incômodas), mas não acho que haja tensões", acrescentou.

As mostras de solidariedade foram mais que notórias e inclusive o presidente haitiano, René Préval, agradeceu publicamente a República Dominicana e seus habitantes por sua grande ajuda.

De quebra, Préval aproveitou para expressar seus desejos de que esta desgraça sirva para que os dois países se aproximem e comecem a lançar as bases de uma relação fundada na solidariedade e no respeito.

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