sábado, 16 de janeiro de 2010

EUA enviarão 10 mil soldados para Haiti; Brasil critica controle americano do aeroporto

16/01/2010 - 07h33

da Folha de S. Paulo, em Washington (EUA)
da Folha Online

O presidente americano, Barack Obama, autorizou nesta sexta-feira o envio de entre 9.000 e 10 mil soldados americanos ao Haiti, após o devastador terremoto de magnitude 7 de terça-feira (12), que já matou 50 mil, incluindo 17 brasileiros. O ministro de Defesa, Nelson Jobim, criticou o controle americano "unilateral" sobre o aeroporto, que tem prejudica o pouso dos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) com mantimentos e equipes brasileiras.

Na prática, o reforço nas tropas americanas pode dar a Washington o controle de fato das operações de resgate, auxílio e de segurança, apesar de o controle de direito ser das forças de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), hoje com cerca de 7.000 soldados e comandadas militarmente pelo Brasil --que tem 1.266 militares no país, informa reportagem de Sérgio Dávila, da Folha de S. Paulo (a íntegra está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).
Alex Brandon15jan.2010/AP
Presidente Barack Obama anuncia envio de 10 mil soldados ao Haiti, mais do que as tropas comandadas pelo Brasil no país
Presidente Barack Obama anuncia envio de 10 mil soldados ao Haiti, mais do que as tropas comandadas pelo Brasil no país

Enquanto a tensão diplomática aumenta entra os EUA e o Brasil, a Nasa anunciou o ativamento nesta sexta-feira de satélites, instrumentos espaciais e outros recursos científicos para determinar a extensão dos estragos no Haiti e ajudar na assistência ao país caribenho, devastado por um terremoto na terça-feira (12).

As tropas americanas chegarão na próxima segunda-feira (18) para trabalhar na distribuição de medicamentos e na manutenção da ordem pública no país --uma tarefa que estava, até então, a cargo das tropas da ONU e sob o comando dos militares brasileiros.

O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, almirante Mike Mullen, disse que o número de soldados americanos no Haiti pode aumentar ainda mais, dependendo das previsões de quanta assistência será necessária nos próximos dias.

Em entrevista coletiva no Pentágono, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse que o objetivo inicial é distribuir os remédios o mais rápido possível "para que as pessoas, em seu desespero, recorram à violência".

Antes mesmo do reforço nas tropas, os EUA já levarão ao país caribenho mil soldados, vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.

Há uma companhia já em solo lidando com segurança e distribuição e, até segunda-feira, chegam mais dois navios com helicópteros, uma força anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital, informa Dávila.

Obama X Gates

O presidente Obama voltou a citar o Brasil na sexta-feira, depois de elogio feito no dia anterior. "No aeroporto, a ajuda continua a chegar, não só dos EUA, mas do Brasil, México, Canadá, França, Colômbia e a República Dominicana, entre outros", disse. "Isso sublinha o ponto que discuti com o presidente na manhã de hoje [ontem]: o mundo todo está ao lado do governo e do povo do Haiti."
Gregory Bull/AP
Pessoas caminham perto de alguns dos edifícios destruídos pelo terremoto de terça-feira (12) em Porto Príncipe, capital do Haiti
Pessoas caminham perto de alguns dos edifícios destruídos pelo terremoto de terça-feira (12) em Porto Príncipe, capital do Haiti

Gates foi mais realista e disse que os EUA "claramente" podem fazer mais, "parte por nossa proximidade, parte por nossa capacidade, e o ponto-chave aqui será coordenar esse esforço".

Mas também adotou tom conciliador e destacou a presença "significativa" do Brasil na ajuda ao Haiti e afirmou que a situação da segurança é muito boa, exceto por alguns casos isolados em buscas por comida e água.

Indagado sobre se com tamanho contingente os EUA não seriam vistos como uma força de ocupação no país, o secretário da Defesa negou que haja essa percepção e disse que a reação dos haitianos será de alívio. "Não acho que seremos vistos assim, principalmente pelo papel que teremos em distribuir alimentos e água e ajuda médica às pessoas", disse, segundo reportagem da Folha.

FAB

Apesar do discurso, o fato é que alguns dos aviões da FAB que enviam mantimentos e equipes de resgate ao Haiti estão com dificuldades de pousar no aeroporto de Porto Príncipe devido ao aumento da restrição de pousos por parte dos americanos --que, desde quinta-feira (14), controlam o local.

O problema ocorre devido às condições precárias do aeroporto, que foi parcialmente danificado com o terremoto de terça-feira que devastou o Haiti. Os americanos --que receberam hoje do governo haitiano o controle temporário sobre o aeroporto-- estão restringindo as operações devido à falta de estrutura para desembarcar o material de ajuda e pela falta de combustível.

Um boletim de alerta da FAA (Administração Federal de Aviação americano, na sigla em inglês) na sexta-feira disse que apenas voos com autorização prévia estão sendo autorizados a pousar em Porto Príncipe, e que para os demais o espaço aéreo haitiano está fechado.

Das oito aeronaves da FAB que fariam transporte de mantimentos, equipes de resgate e autoridades, três pousaram em Porto Príncipe e já retornaram --o último deles trouxe militares brasileiros que sobreviveram ao terremoto. Outros cinco aviões estão à caminho, sendo que três estão em Santo Domingo (República Dominicana) porque não receberam autorização para pouso em Porto Príncipe e dois aguardam autorização em Boa Vista (RR).

A situação causou um pequeno problema diplomático entre Brasil e EUA. Além de dificultar o pouso dos aviões da FAB, os brasileiros reclamam que o controle americano impediu o acesso da Minustah (Missão de Paz da ONU no Haiti, liderada pelos brasileiros) ao local.

A reclamação foi o alvo de uma ligação do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) à secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na tarde de hoje. "Havia um pequeno mal entendido em relação à questão do aeroporto, a sequência dos aviões, o acesso da Minustah ao aeroporto. Ela [Hillary] prometeu que ia reforçar a instrução que já tem o comando militar deles de se coordenar com a Minustah", afirmou.

Ao desembarcar hoje no Brasil depois de uma visita de 24 horas ao Haiti, o ministro de Defesa, Nelson Jobim, também criticou o controle dos EUA sobre o aeroporto de Porto Príncipe. Jobim disse que a decisão foi "unilateral" dos norte-americanos, sem que outros países fossem consultados.

Amorim disse que a secretária de Estado dos EUA esclareceu que as forças americanas vão cumprir funções essencialmente humanitárias, sem interferir na segurança pública do país, já que isso é a função da Minustah. O ministro disse que Hillary reconheceu a liderança do Brasil na recuperação do Haiti, por isso se mostrou disposta a dialogar com as tropas dos EUA no país caribenho.

Com agências internacionais.

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