sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mercadante usa pedido de Lula e crise no PT para justificar permanência no cargo

MÁRCIO FALCÃO
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) anunciou hoje a permanência na liderança do PT no Senado em discurso na tribuna da Casa. A decisão ocorre um dia depois dele informar que deixaria o cargo. A mudança acontece depois de Mercadante conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Não tenho condições de dizer não [ao pedido do presidente Lula]. Não tenho, como não tive antes", disse Mercadante após ler carta em que o presidente pede para ele ficar na liderança do PT no Senado.

Mercadante usa apelo de Lula para recuar na renúncia ao cargo de líder
Após conversar com Lula, Mercadante desiste de renunciar ao cargo

Apesar de permanecer no cargo, Mercadante criticou a decisão do comando do PT de orientar pelo arquivamento de todos os processos contra o senado José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética. "Esbarramos na maior bancada do Senado, que é o PMDB, que teve papel fundamental nesse processo. Esbarramos infelizmente na resposta que o meu governo e o meu partido deram e que não era a minha desde o começo", afirmou.

O petista lembrou que colocou o seu cargo à disposição da bancada logo após a reunião do conselho, mas recebeu apelo da maioria dos senadores e de petistas ilustres para ficar no cargo.

Para justificar ainda a mudança de rumo em sua trajetória, Mercadante usou a crise no PT e a saída dos senadores Marina Silva (AC) e Flávio Arns (PR) do partido.

"Todos os senadores [da bancada] disseram: 'Mercadante, não é esse o caminho. Vocêtem que continuar, tem que ficar'. Pediram que eu ficasse, especialmente neste momento difícil para a própria bancada. Porque a Marina não é um quadro qualquer. Tem uma história de 30 anos [no partido] e representa uma agenda importante para o Brasil. Uma agenda que existe dentro do meu partido", afirmou ele no discurso.

Mercadante afirmou ainda que figuras importantes do PT pediram que ele ficasse no cargo, como a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), o deputado Antonio Palocci (PT-SP), o ex-ministro José Dirceu.

Mercadante disse que nunca pensou em deixar o PT. "Deixar o PT nunca passou pelo meu coração e minha cabeça. Eu sou petista antes do PT existir."

Desgaste

Ontem, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), criticou a decisão do líder de entregar o cargo --depois da orientação da cúpula da legenda para o arquivamento das acusações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética.
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Berzoini conversou com Mercadante por telefone ontem e disse ao petista que seria um "erro" deixar a liderança neste momento. Mercadante saiu desgastado da votação do Conselho de Ética depois que os três petistas integrantes do colegiado votaram pela absolvição de Sarney.

O líder recusou-se a substituir os senadores Ideli Salvatti (PT-SC) e Delcídio Amaral (PT-MS) do conselho. Os dois não mostraram disposição de absolver Sarney, mas votarem pelo arquivamento dos processos seguindo orientação de Berzoini. Delcídio chegou a acusar Mercadante de ter se recusado a ler a nota do presidente do partido durante a reunião do Conselho de Ética para não desgastar-se junto à opinião pública.

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