Sistemismo Ecológico ou abordagem sistêmica ecológica é a designação de uma perspectiva metodológica, elaborada por Edson Paim & Rosalda Paim, correspondente a uma dupla visão, formada pelo acoplamento da Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo) e da Ecologia, destinada a focalizar o sistema em estudo, simultaneamente com o respectivo ambiente, acrescida das relações entre ambos, expressas pelo intercâmbio de "matéria, energia e informações".
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Rússia planeja construir nova cidade científica para competir com Vale do Silício
The New York Times
do UOL Notícias
James Hill/The New York Times
Homens trabalham na construção da escola de administração e negócios de Skolkovo; a Rússia está investindo na construir de uma cidade científica nos moldes do Vale do Silício nos EUA
Andrew E. Kramer
Em Moscou (Rússia)
George El Khouri Andolfato
Por volta da mesma época em que a Apple Computer começava a estourar na Califórnia, Andrey Shtorkh estava olhando pessoalmente para a abordagem soviética para a alta tecnologia: ele protegia a cerca que mantinha os cientistas dentro da Sverdlovsk-45, uma das cidades científicas secretas do país, nos Montes Urais.
As cidades eram fechadas como proteção contra espiões. Seus muros também mantinham os cientistas no interior e todas as demais pessoas na União Soviética de fora. Apesar de muitas pessoas no país estarem passando fome, os centros científicos eram ilhas de bem-estar, onde as prateleiras das lojas estavam repletas de alimentos importados e outros produtos.
Mas a segurança nestas ilhas científicas era tão forte que até mesmo as crianças usavam crachás. Os parentes precisavam pedir com meses de antecedência uma permissão para visitar. “Era uma prisão, uma cidade fechada em todos os sentidos”, lembra Shtorkh, na época um jovem soldado.
Hoje, ele é um profissional de relações públicas de um novo empreendimento improvável. O governo russo, na esperança de diversificar sua economia para não depender do petróleo, está construindo a primeira nova cidade científica desde o colapso da União Soviética. De forma ainda mais improvável, seu modelo é, segundo as autoridades, o Vale do Silício.
O local, ainda sem nome e próximo de um vilarejo nos arredores de Moscou, foi concebido não como uma cidade secreta na Sibéria, numerada, mas, sim, como uma tentativa de duplicar a vibração e o espírito empreendedor da incubadora de tecnologia dos Estados Unidos.
A rica tradição científica da Rússia e seu retrospecto ruim de conversão de ideias em produtos comercializáveis são ambos incontestados, citados como causas para o colapso soviético e pela dependência debilitante na mineração e no petróleo. Sem causar surpresa, seus líderes olham com desejo para o Vale do Silício.
“Todo o país precisa de algum tipo de inovação”, disse Viktor F. Vekselberg, o oligarca russo nomeado como co-diretor do projeto, em uma entrevista. Vekselberg foi escolhido em parte por causa de seus investimentos em energia solar, um empreendimento incomum para um oligarca russo que fez fortuna em commodities. “A fundação da cidade da inovação, em forma e substância”, ele diz, “poderia ser a plataforma de lançamento para o país como um todo”.
Ele chama a cidade de “um teste de modelos de negócios” para reconstrução da ciência russa para a era capitalista.
Assim que for desenvolvida, a intenção é de que a cidade incube ideias científicas usando generosas isenções fiscais e subvenções do governo até que novas empresas possam se transformar em empresas lucrativas. Aqueles que a apoiam no setor público e privado a descrevem como um esforço para mesclar a tradição soviética de formação de cidades científicas com os modelos ocidentais de encorajamento de empreendimentos de tecnologia em torno das universidades.
Os céticos veem uma tendência mais profunda da tradição russa: tentar alcançar o Ocidente por meio do poder do Estado. Olhando com descrença para a mistura incongruente da vontade do Kremlin com a abertura prezada pelo Vale do Silício, eles se referem zombeteiramente à nova cidade como Cupertino-2.
“Nós não devemos esperar que os mesmos mecanismos que funcionam no Vale do Silício funcionem na Rússia”, disse Evgeny V. Zaytsev, um co-fundador da Helix Ventures, uma empresa de capital de risco em ciências da vida com sede em Palo Alto, Califórnia, e membro do conselho consultivo da AmBar, a associação de empresas russas no verdadeiro Vale do Silício. “O governo estará envolvido, porque é assim que funciona na Rússia.”
De fato, a nova cidade foi concebida pela Comissão para Modernização, nas profundezas da burocracia do Kremlin.
O governo russo tem um relacionamento longo e conflituoso com os empreendedores e cientistas. Ainda há uma tradição de repressões do governo a empresas privadas por meio da aplicação caprichosa das leis trabalhistas, tornando o empreendedorismo difícil.
Por ora, o Vale do Silício desejado pela Rússia é uma paisagem de campos lamacentos, bosques de bétulas, armazéns e barracões de depósito pertencentes a um instituto agrícola estatal. O local foi escolhido por sua proximidade de outro projeto ambicioso, a escola de administração e negócios de Skolkovo, situada em um prédio futurista financiado por milhões em doações dos oligarcas, incluindo Vekselberg.
Apesar de ideias semelhantes terem sido discutidas por anos, esta foi aprovada –e abençoada com US$ 200 milhões (cerca de R$ 355 milhões) em dinheiro do governo– um mês após uma visita em janeiro ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts por altos líderes do Kremlin, incluindo Vladislav Surkov, o poderoso vice-diretor da administração presidencial. Surkov diz que a nova cidade isolará as novas empresas da burocracia que algema a economia russa atualmente.
Uma fundação financiada pelo governo construirá e administrará a cidade. Diretores de empresas de tecnologia financiadas pelo Estado –incluindo a Rusnano, um fundo de nanotecnologia comandado por Anatoly Chubais, um dos principais arquitetos da controversa privatização pós-soviética da Rússia– atuarão no conselho e contribuirão com fundos. Separadamente, um conselho científico decidirá que empresas poderão se instalar no local. A infraestrutura deverá estar implantada em três anos, disse Vekselberg.
Zaytsev cresceu na cidade siberiana de Barnaul, obteve um MBA por Stanford e trabalhou em empresas de capital de risco antes de fundar a sua própria. Ele aprova o espírito experimental da nova cidade. Mas ele está cético de que os burocratas conseguirão canalizar o dinheiro de forma a transformar a Rússia em uma força competitiva na tecnologia de consumo. A Rusnano e outras empresas financiadas pelo Estado tiveram poucos sucessos até o momento.
“Quanto menos controle, melhor”, diz Zaytsev. Se o governo “controla os fundos de capital de risco, nenhum fundo de capital de risco real virá”.
Por algum tempo, a elite russa abraçou o petróleo como garantia para restaurar a economia doméstica do país, sua posição no mundo e seu poder na política regional. Vladimir V. Putin, o presidente na época, chegou a citar o preço das ações da Gazprom como um feito nacional.
Mas a Gazprom, uma empresa que herdou os direitos sobre as maiores reservas de gás natural do mundo, agora é menos valorizada pelos investidores do que a Apple, uma empresa que nasceu em uma garagem. De fato, a sensibilidade do Kremlin à sua posição atrasada no mundo digital esteve em plena exibição neste ano no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Putin, atualmente o primeiro-ministro, e Michael S. Dell se viram no mesmo painel de discussão, e Dell perguntou de passagem como ele poderia ajudar a Rússia a desenvolver seu setor de tecnologia da informação.
Putin respondeu friamente: “Nós não precisamos de ajuda. Nós não somos inválidos. Nós não temos capacidade mental limitada”.Para as autoridades russas nacionalistas, apenas esfrega sal na ferida o fato das empresas do Vale do Silício recrutarem tão facilmente cientistas russos brilhantes. A AmBar, a associação das empresas russas, estima que 30 mil a 60 mil profissionais de língua russa trabalhem na Área da Baía de San Francisco.
Um nome de destaque no mundo da alta tecnologia, o co-fundador do Google, Sergei Brin, emigrou da Rússia para os Estados Unidos com seus pais quando era criança. Se a Rússia fosse um lugar diferente, talvez Brin pudesse ter fundado o Google lá, e não no Vale do Silício.
A Rússia não é o primeiro país a ter a ideia de copiar o Vale do Silício. Na Malásia, por exemplo, uma floresta foi desmatada para uma cidade de informática chamada Cyberjaya, que se autodeclarava um esforço para imitar a área californiana. A China possui um aglomerado de alta tecnologia em Tianjin, nos arredores de Pequim, e a França em Sophia Antipolis, perto de Nice, todos criados com ajuda do governo –e todos no final bem-sucedidos em atrair e fomentar empresas privadas.
* James Hill/The New York Times
Yevgeny Kaspersky, fundador do Kaspersky Lab, empresa de programas antivírus, torce para que o projeto da nova cidade científica na Rússia seja bem-sucedido
No meio do boom do petróleo, as autoridades russas sugeriram atrair de volta o talento russo com a construção de uma comunidade residencial fechada nos arredores de Moscou, projetada para parecer um subúrbio americano. O que há na vida em Palo Alto, elas aparentemente se perguntaram, que não podemos duplicar na Rússia rica em petróleo?
O novo esforço, entretanto, vai muito além de boas moradias. Ele também abraça a ideia de encorajar novas empresas a comercializar o trabalho feito nos laboratórios universitários.
As autoridades russas analisaram os parques tecnológicos asiáticos com tratamento tributário favorável e criaram quatro próprios –em Tomsk, Dubna, Zelenogrado e São Petersburgo. Três foram instalados em antigas cidades científicas fechadas.
Mas as ideias para o Vale do Silício da Rússia são ainda maiores. Uma lei proposta reduziria impostos, controles alfandegários e regras de imigração da forma como as empresas pedem há anos. Por exemplo, os planejadores dizem que estudaram o papel de regras de imigração mais simples para atrair talentos ao Vale do Silício.
O presidente Dmitri A. Medvedev nomeou Vekselberg como co-diretor do projeto, uma posição que provavelmente evoluirá para um dos dois diretores da fundação que administrará a nova cidade. Como primeira ordem de trabalho, ele recrutará um empresário estrangeiro para co-dirigir a cidade com ele; ele já enviou cerca de 100 cartas para pessoas no exterior que são candidatos potenciais.
Por ora, seu próprio dinheiro não está investido no projeto. Mas o grupo Renova de Vekselberg, cujos principais investimentos são em metais e petróleo, conta com um investimento significativo em energia solar, por meio de uma participação de 44% na Oerlikon, uma fabricante de painéis solares finos como películas com sede na Suíça.
Vekselberg disse ter ficado surpreso com sua nomeação, mas agora acredita no projeto e deseja atrair uma mistura de novas empresas, empresas estabelecidas e instituições acadêmicas. Medvedev, em um encontro televisionado a respeito da nova cidade, enfatizou a comercialização: “A nova tecnologia que estamos criando não é brinquedo para intelectuais”, ele disse.
A nova cidade visa promover as cinco prioridades científicas estabelecidas por Medvedev –comunicações, biomedicina, espaço, energia nuclear e conservação de energia– e encorajar o cruzamento de disciplinas. As propriedades não serão compradas, mas alugadas, e o governo oferecerá ajuda financeira aos cientistas que tiverem dificuldade para encontrar financiamento privado.
“Na Califórnia, o clima é bonito e eles não têm os problemas ridículos da Rússia”, disse Shtorkh. Para competir, ele disse, a Rússia formará um local separado para os cientistas. “Eles deveriam ficar isolados de nossa realidade”, ele acrescentou.
As autoridades pintaram o Vale do Silício russo em termos ideológicos. A Rússia, elas disseram, será novamente definida pela profundidade de seu talento científico, e não por suas minas e poços. O governo nomeou como diretor científico o físico ganhador do Nobel, Zhores Alferov –cujas descobertas nos anos 50 foram citadas pelo comitê do Nobel como responsáveis pela abertura do caminho para os telefones celulares (que a União Soviética nunca produziu).
Os empreendedores de alta tecnologia que permaneceram na Rússia estão mais céticos. Yevgeny Kaspersky, fundador do Kaspersky Lab, uma empresa de programas antivírus, disse que torce para que o projeto seja bem-sucedido, mas que o governo deveria limitar seu papel a oferecer incentivos fiscais e infraestrutura.
Ele abriu sua própria empresa em Moscou nos anos 90, trabalhando à noite no seu hobby de capturar e estudar vírus de computador, mas ele se beneficiou de uma zona econômica especial para novas empresas apenas quando abriu um escritório em Tianjin, em 2003. O governo chinês lhe deu isenção fiscal e espaço gratuito para escritório por um ano.
“A Rússia possui muitos engenheiros de software talentosos, mas não muitas empresas bem-sucedidas”, ele disse. “As pessoas ainda possuem uma cortina de ferro em suas mentes.”
As velhas cidades científicas estavam ligadas às forças armadas, mas elas também refletiam tendências futuristas e utópicas no pensamento soviético. Isolar cientistas em enclaves siberianos –afastados da luta por alimentos que definia a vida de muitos outros cidadãos– e lhes fornecer laboratórios rendeu resultados nas armas nucleares soviéticas e no programa espacial. Com forças de trabalho talentosas e de baixo custo, as cidades permanecem atraentes, até mesmo para investidores estrangeiros: IBM, Intel e outras abriram escritórios e laboratórios nas antigas cidades russas fechadas.
O problema, dizem os críticos, é que o governo atualmente quer reunir engenheiros e cientistas russas sem saber o que deseja. O modelo, em vez disso, deveria ser o de máxima exposição à concorrência e aos caprichos da demanda do consumidor.
“Eles não entendem o que precisam”, disse um conselheiro do Kremlin, que não estava autorizado a falar publicamente. “Eles não precisam de outra bomba atômicas e não precisam de novos televisores.”
Os planejadores estão, enquanto isso, à procura de um nome. Uma sugestão foi “Innogrado”, ou Cidade da Inovação, lembrando com humor autopejorativo a nomenclatura pomposa soviética para novos empreendimentos, como “Montanha Magnética” –o nome dado a uma usina siderúrgica gigantesca nos Montes Urais.
Outra opção foi “Gorod Solntsa”, ou Cidade do Sol, uma referência ao bairro próximo de Moscou chamado Solntsovo. Esta sugestão, entretanto, pode minar a ideia de virar uma nova página, já que Solntsovo também é o nome de um famoso grupo do crime organizado dos anos 90, que nasceu na região.
Shtorkh, o ex-guarda da cidade fechada, prefere o estilo Apple: iGorod.
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