sábado, 5 de setembro de 2009

Gabrielli: decisões levam 7 anos para ‘virar petróleo’

Folha
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, serve-se de um argumento de aparência contraditória para justificar o toque de caixa do pré-sal.



Alega que o regime de urgência imposto por Lula ao Congresso justifica-se pela demora em extrair resultados das jazidas.



Gabrielli diz que “Campos descobertos em 2000 só vão mostrar o primeiro óleo 13 anos depois”.



“Definindo as regras agora”, diz ele, “você faz com que a indústria de fornecedores se adapte, ajuda as empresas a tomar suas decisões, acelera os projetos mais viáveis”.



Ele completa: “Tem um conjunto de decisões que vai levar seis ou sete anos para virar petróleo. Precisamos aproveitar essa oportunidade”.



O “Senhor pré-sal” falou ao repórter Paulo Moreira Leite. A entrevista escalou as páginas de Época. Vai reproduzida abaixo:





– Qual é o objetivo de criar uma nova estatal ligada ao petróleo?
A Petro-Sal é o olho do governo, com poder de aprovação e de veto. Sua função principal é controlar custos e maximizar o lucro. Ela vai ser a supervisão, o interesse da União, sobre a Petrobras. É uma função muito semelhante à da Petoro, da Noruega.

– O barril de petróleo está em US$ 65, e o governo diz que o pré-sal será viável a pelo menos US$ 45. Por quê?
Falamos do único modelo de exploração conhecido, no campo de Tupi. O custo é definido pelo número de poços que você tem de construir. Um poço custa perto de US$ 100 milhões. O número de poços é a variável-chave que precisamos conhecer. Saberemos isso no fim de 2010.

– Se não se sabe quantos poços serão necessários, não é precipitado votar tudo em regime de urgência?
A mudança regulatória não depende do conhecimento de custos. Vem do fato de que o risco exploratório é muito baixo. O pré-sal é uma das maiores descobertas da história da indústria do petróleo. As chances de encontrar petróleo nessa área são muito grandes. É como comprar bilhete premiado.

– Como assim?
A Petrobras perfurou 37 poços no pré-sal. Teve 87% de sucesso. Na Bacia de Santos, o sucesso foi de 100%. Vai ser sempre assim? Provavelmente, não. Mas será sempre uma área de risco baixo. O regime anterior, de concessões, destinava-se a licitações para explorar áreas de alto risco. O regime de concessões permanecerá na área nessas condições. Mas não será aplicado em áreas de baixo risco.

– O prazo de 90 dias para o Congresso não é pouco?
São 45 dias para a Câmara dos Deputados, mais 45 dias para o Senado. Se o Senado fizer mudanças, volta para a Câmara. Nossa expectativa é que isso não será aprovado antes do primeiro semestre de 2010. Mas é importante fazer isso com certa rapidez. A capitalização da Petrobras não pode ficar eternamente em aberto. Envolve um volume de ações muito grande e impacta o mercado, no Brasil e no exterior. E há outra razão para rapidez.

– Qual?
Você costuma levar seis ou sete anos entre a primeira descoberta e o primeiro óleo, na média. Campos descobertos em 2000 só vão mostrar o primeiro óleo 13 anos depois. Definindo as regras agora, você faz com que a indústria de fornecedores se adapte, ajuda as empresas a tomar suas decisões, acelera os projetos mais viáveis. Tem um conjunto de decisões que vai levar seis ou sete anos para virar petróleo. Precisamos aproveitar essa oportunidade.

Escrito por Josias de Souza às 04h30

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