segunda-feira, 8 de junho de 2009

Falha em sensor de Airbus foi revelada em 96, diz jornal

MARCELO NINIO
da Folha de S.Paulo, em Genebra

Os primeiros problemas nos sensores externos de velocidade Pitot, os mesmos que acusaram falha no voo AF 447 da Air France, foram descobertos pela Airbus há mais de 12 anos, segundo reportagem publicada ontem pelo semanário francês "Journal du Dimanche".

Um comunicado interno do fabricante emitido em novembro de 1996 e obtido pela publicação da França alerta que os parâmetros de medição do instrumento poderiam ser "severamente degradados" em situações de tempestade.


A mensagem cita especificamente como área de risco a "zona de convergência intertropical", região de instabilidade climática que estava na rota do avião da Air France que caiu.

Em entrevista concedida no sábado, o diretor do BEA, a agência francesa que investiga o acidente, confirmou que o Airbus-A330, o modelo que desapareceu entre Rio e Paris, já havia sofrido panes no Pitot.

Paul-Louis Arslanian acrescentou que um programa de substituição da peça estava em curso por recomendação do fabricante, mas que o avião acidentado ainda não havia passado por ele. Arslanian ressalvou, no entanto, que os peritos ainda não têm clareza do papel que a suposta falha no Pitot pode ter tido no acidente.

Com base nas 24 mensagens automáticas enviadas pelo Airbus da companhia Air France em seus últimos minutos de voo, o BEA identificou uma série de panes provocadas pela falta de dados de velocidade, que pode ter sido causada ou agravada pelo defeito no Pitot.

Horas depois da entrevista, a Air France divulgou uma nota informando que "acelerou" o programa de troca do instrumento, mas disse que isso não deveria "pressupor uma ligação com as causas do acidente".

Solução

Em seu comunicado, a Air France disse que desde 2007 foram observados no modelo de aeronave A320 incidentes de perda de informações no aparelho -um tubo que mede a velocidade e envia dados a outros sistemas do avião.

A partir de maio de 2008, falhas foram detectadas nos modelos A340 e A330, segundo a Air France, que afirma ter pedido à Airbus uma solução para "reduzir ou eliminar" a aparição desses problemas.

Na ocasião, segundo a companhia francesa, a Airbus informou que a peça recomendada para a aeronave A320 não havia sido feita para prevenir os incidentes em alta altitude.

A Air France disse que somente no primeiro trimestre de 2009 os testes em laboratório mostraram que a nova peça "poderia trazer uma melhoria significativa". A empresa diz ter lançado seu programa de substituição das peças em abril.

Para o ministro dos Transportes francês, Dominique Bussereau, a atenção para a falha nos sensores não deve ser exagerada. "Uma avaria nos sensores não é suficiente para explicar a causa do desaparecimento do voo AF 447", disse.

Ele disse ontem que a prioridade para a investigação é achar as duas caixas-pretas.

"Só nos restam três semanas", disse Bussereau, em referência ao tempo estimado de operação dos sinalizadores acoplados às caixas-pretas.

Colaborou ALENCAR IZIDORO, da Folha de S.Paulo

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