sábado, 20 de setembro de 2008

Crise financeira está apenas começando, diz Nobel de economia

da Efe, em Washington

O pacote de intervenção em grande escala nos mercados, anunciado pelo governo dos Estados Unidos, está errado porque a raiz do problema não está diretamente na crise imobiliária, segundo o Nobel de economia Joseph Stiglitz, para quem "isto é só o começo".

Os mercados receberam com entusiasmo o anúncio de uma intervenção de centenas de bilhões de dólares, mas Stiglitz disse em entrevista à Agência Efe que o cidadão comum deveria estar muito preocupado, pois o país está à beira de uma recessão.

Em lugar de comprar a dívida "tóxica" dos bancos, que ninguém quer, o governo deveria conseguir a renegociação das hipotecas das pessoas que estão com a corda no pescoço, disse.

Stiglitz acredita que a crise é uma conseqüência da "má gestão" da Administração republicana e do Federal Reserve (Fed, o BC americano), que não supervisionou corretamente o sistema financeiro e injetou em Wall Street liquidez antes da crise.

O economista também vincula o problema ao Iraque, que é "A Guerra dos Três Trilhões de Dólares" ("The Three Trillion Dollar War", no original), segundo diz o título de seu último livro, no qual exibe uma estimativa "conservadora" do custo do conflito para os Estados Unidos.

Stiglitz, que recebeu o Nobel de economia em 2001 e que agora é professor na Universidade de Columbia, fala dos democratas com conhecimento do governo, pois foi o principal conselheiro econômico de Bill Clinton quando este foi presidente.

Atualmente, é assessor de Barack Obama, candidato presidencial democrata, mas na entrevista disse falar em nome próprio.

EFE: Qual a sua opinião sobre o programa de intervenção nos mercados financeiros anunciado pelo governo dos EUA?.

Stiglitz: Acho que não é suficiente, nem foi feito de forma correta, nem aborda o problema fundamental, que é a grande quantidade de execuções de hipotecas. O sistema está debilitado pelo peso da dívida, e parte desta se deve à guerra do Iraque.

EFE: O senhor vê um vínculo direto entre este conflito e a crise financeira?

Stiglitz: A guerra contribuiu para o enfraquecimento da economia. Em 2008-2009 está previsto que tenhamos o maior déficit fiscal de nossa história.

A guerra também contribuiu para a alta do preço do petróleo. Drenamos nossa economia para comprar petróleo. Isso foi o motivo da ampla liquidez (fornecida pelo Fed antes da crise): diminuir os efeitos de uma despesa tão alta no Iraque. Mas certamente se criou um problema para o futuro com isso.

EFE: É surpreendente que a economia americana continue crescendo, embora lentamente, apesar da crise financeira. Como o senhor vê suas perspectivas?

Stiglitz: O desemprego subiu para 6,1% e provavelmente crescerá mais. Essa é uma das razões pelas quais isto é só o princípio da crise.

Dirigimo-nos lentamente rumo a um descarrilamento econômico que intensificará os problemas financeiros. À medida que as receitas caírem, os preços da moradia descerão mais e haverá mais despejos de inquilinos. Portanto, estamos dentro de uma espiral e ninguém faz nada para interrompê-la.

Há uma probabilidade significativa de recessão nos próximos trimestres.

EFE: Como avalia a situação atual dos mercados?

Stiglitz: A situação é muito pior do que o senhor imagina. Isso já foi demonstrado quando o mercado monetário quase entrou em colapso na quinta-feira.

Inclusive gigantes industriais podem enfrentar problemas de liquidez agora. Os problemas são muito graves. É lógico que após oito anos de má gestão econômica (o mandato de George W. Bush) há esta falta de confiança.

EFE: O que o Governo deveria fazer para frear a crise?

Stiglitz: Podemos incentivar a renegociação das hipotecas para que menos pessoas tenham de declarar a falência. Não ajuda ninguém o fato de as pessoas serem obrigadas a sair de suas casas.

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